Falar demais ou não perceber o momento de parar é uma dificuldade comum entre adultos autistas. Neste post, você confere 10 estratégias práticas para desenvolver a escuta ativa, evitar a fala egocêntrica e construir conversas mais equilibradas e satisfatórias.
Conversar é mais do que falar — é também escutar, interpretar sinais e dar espaço para o outro se expressar. Para muitos adultos autistas, especialmente no nível 1 de suporte, manter esse equilíbrio pode ser desafiador. A fala egocêntrica, ou monólogo, é quando a pessoa se aprofunda em seus próprios interesses sem perceber se o outro está engajado ou disposto a continuar a conversa.
Essa dificuldade não está ligada à falta de empatia, mas sim a características neurológicas que afetam a leitura de pistas sociais, a percepção do tempo de fala e a flexibilidade cognitiva. A boa notícia é que existem estratégias simples e eficazes para ajudar a desenvolver diálogos mais recíprocos, respeitosos e conectados.
10 Dicas para ajudar autistas adultos a evitar a fala egocêntrica e praticar escuta ativa
1. Use um cronômetro interno ou real
Estipule um tempo médio para falar sobre um assunto antes de ceder a palavra ao outro. Um cronômetro discreto ou uma contagem mental ajuda a não prolongar demais.
2. Observe sinais de interesse ou desinteresse
Fique atento a pistas como bocejos, olhar desviado, celular na mão ou respostas curtas. Esses sinais podem indicar que é hora de mudar de assunto ou perguntar algo.
3. Faça perguntas abertas
Evite transformar a conversa em um monólogo. Pergunte: “E você, já viveu algo parecido?” ou “O que você acha disso?”. Isso convida o outro a participar.
4. Estabeleça pausas intencionais
Falar sem parar pode cansar o ouvinte. Fazer pequenas pausas dá ao outro a chance de comentar ou fazer perguntas.
5. Combine “palavras de segurança” com amigos ou colegas
Para conversas frequentes, crie uma palavra ou gesto que sinalize gentilmente que é hora de ouvir ou mudar de foco.
6. Pratique escuta ativa com feedback
Mostre que está ouvindo com acenos de cabeça, interjeições como “entendi” e resumos curtos do que a outra pessoa disse. Isso demonstra interesse real.
7. Evite repetir demais o mesmo assunto
Interesses especiais são importantes, mas é útil variar os temas ou perguntar se o outro quer ouvir sobre aquilo.
8. Ensaie conversas com ajuda terapêutica
Grupos de habilidades sociais ou sessões com psicólogos e terapeutas ocupacionais são ótimos espaços para treinar conversas com feedback construtivo.
9. Peça feedback confiável
Pergunte a pessoas próximas se elas se sentem ouvidas e acolhidas nas conversas. Isso ajuda a perceber pontos de ajuste sem culpa.
10. Valorize o silêncio
O silêncio também é comunicação. Não se sinta obrigado a preencher todos os espaços com fala — dar espaço é um ato de empatia.
Conclusão
A fala egocêntrica em adultos autistas não é desrespeito, mas sim reflexo de como o cérebro processa a comunicação. Com consciência e prática, é possível desenvolver habilidades de escuta ativa, cultivar conversas mais ricas e criar vínculos sociais mais saudáveis e gratificantes.
Não se trata de mudar quem você é, mas de aprender ferramentas que te ajudem a comunicar melhor com o mundo — e ser melhor compreendido também.
Referências bibliográficas:
•Attwood, T. The Complete Guide to Asperger’s Syndrome.
•Gray, C. Social Stories and Comic Strip Conversations.
•Baron-Cohen, S. Teoria da Mente e Autismo.
•Grandin, T. O Cérebro Autista.
•American Psychiatric Association. DSM-5 (2022).
•National Autistic Society (UK). Social Communication and Autism.
•APA. Effective Communication Strategies for People on the Spectrum.