8 estratégias para apoiar autistas com TDAH no dia a dia

Autistas com TDAH enfrentam desafios extras na organização, atenção, impulsividade e regulação emocional. Neste post, reunimos 8 estratégias práticas, baseadas em evidências, que ajudam a estruturar melhor a rotina e a oferecer um suporte mais eficaz no cotidiano.

Quando o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ocorre em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), os desafios se intensificam — especialmente no que diz respeito à atenção sustentada, controle de impulsos e autorregulação emocional. Embora cada pessoa seja única, algumas estratégias podem ser aplicadas de forma adaptada à realidade familiar, escolar ou clínica.

Neste post, reunimos 8 estratégias validadas pela prática clínica e por estudos científicos que podem fazer a diferença no dia a dia de quem vive com autismo e TDAH.

 1. Crie ambientes previsíveis e estruturados

Pessoas autistas com TDAH se beneficiam de ambientes organizados e com previsibilidade. Isso reduz a ansiedade, melhora o foco e diminui comportamentos impulsivos.

Como aplicar:

  • Estabeleça lugares fixos para cada objeto.

  • Use divisórias visuais para delimitar espaços (ex.: canto da leitura, mesa de tarefas).

  • Evite excesso de estímulos visuais ou sonoros.

Estudos mostram que ambientes organizados reduzem a sobrecarga sensorial e ajudam na autorregulação【1】.

2. Use organizadores visuais e cronogramas simples

Organizadores visuais ajudam o cérebro a antecipar o que vai acontecer, o que é essencial para o autista com TDAH, que tem dificuldades com memória de trabalho e transições.

Como aplicar:

  • Use quadros de rotina com imagens ou pictogramas.

  • Crie checklists simples com “o que fazer”, “feito” e “próximo passo”.

  • Inclua cores para destacar prioridades.

Ferramentas visuais aumentam o engajamento e a autonomia, inclusive em crianças não verbais【2】.

3. Estabeleça rotinas consistentes com pausas regulares

Autistas com TDAH precisam de pausas estruturadas ao longo da rotina para evitar sobrecarga mental e emocional.

Como aplicar:

  • Divida tarefas longas em blocos menores.

  • Programe pausas a cada 15–30 minutos, com atividades relaxantes (ex.: beber água, esticar o corpo, sentar em local silencioso).

  • Use timers visuais para marcar início e fim de cada atividade.

Intercalar tarefas com pequenas pausas melhora o desempenho de pessoas com TDAH【3】.

4. Invista no treino de habilidades sociais e emocionais

A impulsividade do TDAH somada às dificuldades sociais do TEA pode prejudicar a convivência e gerar isolamento.

Como aplicar:

  • Trabalhe com jogos de turnos, expressão de sentimentos e reconhecimento de emoções.

  • Utilize histórias sociais para explicar regras sociais.

  • Faça simulações de situações cotidianas (role-play).

A intervenção com foco em habilidades sociais mostra bons resultados em autistas com TDAH【4】.

5. Use técnicas de autorregulação emocional

Ensinar a identificar e lidar com emoções ajuda a prevenir meltdowns e agir com mais controle diante das frustrações.

Como aplicar:

  • Ensine respiração profunda com o auxílio de bolinhas de sabão ou apps guiados.

  • Use cartões de sentimentos com cores e rostos.

  • Crie “caixinhas do calma” com objetos sensoriais.

Técnicas como mindfulness e respiração consciente são eficazes mesmo em crianças pequenas【5】.

6. Inclua a família e a escola em intervenções psicoeducativas

É essencial que todos os envolvidos compreendam como o TDAH afeta a pessoa autista e saibam como agir com empatia.

Como aplicar:

  • Promova encontros de orientação com pais, cuidadores e professores.

  • Forneça materiais com linguagem acessível (cartilhas, vídeos).

  • Crie um plano de apoio individual na escola, com adaptações pedagógicas.

A colaboração entre escola, família e profissionais aumenta a efetividade das intervenções【6】.

7. Considere terapia comportamental e ocupacional

As abordagens terapêuticas são ainda mais eficazes quando personalizadas e multidisciplinares.

Como aplicar:

  • A terapia comportamental pode trabalhar impulsividade, organização e resolução de problemas.

  • A terapia ocupacional auxilia no desenvolvimento de rotinas, habilidades motoras e sensoriais.

  • Sempre busque profissionais com experiência em TEA e TDAH.

Estudos demonstram que a combinação dessas terapias melhora o desempenho funcional e a autonomia【7】.

8. Avaliação médica para uso de medicação, quando necessário

Em alguns casos, o uso de medicação pode ser importante para controlar sintomas mais intensos de desatenção, hiperatividade ou impulsividade.

Como aplicar:

  • Procure um médico psiquiatra ou neurologista com experiência em neurodesenvolvimento.

  • Avalie benefícios e efeitos colaterais com acompanhamento contínuo.

  • A medicação não substitui as intervenções psicossociais — ela complementa.

A medicação pode ser eficaz, mas deve ser usada com critério e individualização【8】.

Conclusão

Autistas com TDAH têm necessidades específicas que exigem um olhar atento, empático e estratégico. Com as estratégias certas, é possível reduzir o estresse, aumentar a autonomia e melhorar a qualidade de vida. O importante é adaptar, experimentar e construir um caminho respeitoso, que valorize as potências de cada pessoa.

Não existe fórmula mágica — mas existe suporte inteligente, baseado em ciência e cuidado.

Referências bibliográficas

  1. American Psychiatric Association. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5ª ed. Artmed, 2014.

  2. Hodgdon, L. Q. (1995). Visual Strategies for Improving Communication: Practical Supports for School and Home. QuirkRoberts Publishing.

  3. Barkley, R. A. (2015). Taking Charge of ADHD: The Complete, Authoritative Guide for Parents. Guilford Press.

  4. Rao, P. A., & Landa, R. J. (2014). Association Between Severity of Behavior and Social Skills in Children With Autism Spectrum Disorders and ADHD. Research in Autism Spectrum Disorders, 8(6), 690–697.

  5. Meppelink, R., de Bruin, E. I., & Bögels, S. M. (2016). Mindfulness training for children with ADHD and mindful parenting. Journal of Child and Family Studies, 25(8), 2344–2356.

  6. Ministério da Saúde. Linha de cuidado para pessoas com TEA na RAPS/SUS. Brasília: 2021.

  7. AOTA. Occupational Therapy Practice Guidelines for Children and Youth With Challenges in Sensory Integration and Sensory Processing. American Occupational Therapy Association.

  8. Cortese, S. (2020). Pharmacologic treatment of ADHD. New England Journal of Medicine, 383(11), 1050–1056.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest