TDAH ou TDAH com autismo? Entenda as diferenças e semelhanças

Embora o TDAH e o autismo compartilhem algumas características, são condições distintas. Neste post, explicamos as principais diferenças entre o TDAH puro e o TDAH quando associado ao TEA, mostrando como essas condições podem coexistir e o que isso representa na prática clínica e na vida cotidiana.

Muitas pessoas se perguntam: o TDAH e o autismo são a mesma coisa? Afinal, ambos podem envolver dificuldade de atenção, impulsividade, problemas de regulação emocional e comportamentos repetitivos. No entanto, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno do Espectro Autista (TEA) são condições diferentes, com causas, manifestações e necessidades de intervenção distintas.

Ao mesmo tempo, estudos mostram que essas condições podem coexistir. Pessoas com TEA têm maior probabilidade de apresentar TDAH e vice-versa. Entender as diferenças entre TDAH puro e TDAH com autismo é essencial para diagnósticos mais precisos e estratégias de apoio mais eficazes.

O que é o TDAH puro?

O TDAH puro é o diagnóstico do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade sem a presença de autismo. Segundo o DSM-5, o TDAH é caracterizado por sintomas persistentes de:

  • Desatenção: dificuldade de manter o foco, esquecer tarefas, parecer não ouvir, não seguir instruções.

  • Hiperatividade: inquietação motora, falar demais, dificuldade de ficar sentado.

  • Impulsividade: interromper os outros, agir sem pensar, dificuldade de esperar a vez.

Pessoas com TDAH puro geralmente não apresentam as dificuldades de interação social ou os padrões de interesse restrito característicos do autismo.

O que é TDAH com autismo (TEA)?

Quando falamos de TDAH com autismo, estamos nos referindo a pessoas que apresentam sintomas de TDAH e, simultaneamente, características do TEA, como:

  • Dificuldades na comunicação social (verbal e não verbal)

  • Comportamentos repetitivos e interesses restritos

  • Rigidez de pensamento e apego a rotinas

  • Sensibilidades sensoriais (hiper ou hiporreatividade a estímulos)

Estudos apontam que entre 30% e 80% das pessoas autistas também apresentam TDAH, o que indica uma forte sobreposição clínica. No passado, os manuais diagnósticos impediam que ambos os diagnósticos fossem dados juntos, mas o DSM-5 (2013) passou a permitir a codificação simultânea.

Semelhanças entre TDAH e TEA

TDAH e TEA compartilham algumas manifestações, o que pode confundir diagnósticos:

  • Dificuldade de atenção e foco seletivo

  • Impulsividade (embora por motivos diferentes)

  • Problemas com autorregulação emocional

  • Dificuldade com regras sociais

  • Desorganização no cotidiano

  • Problemas com rotina escolar

Entretanto, a motivação e o contexto desses comportamentos costumam ser diferentes — e é aí que mora a importância do diagnóstico cuidadoso.

Principais diferenças entre TDAH e TEA

Característica

TDAH puro

TEA (com ou sem TDAH)

Interação social

Pode ser impulsivo, mas busca interação

Dificuldade na compreensão e reciprocidade social

Foco de atenção

Atenção dispersa, facilmente distraído

Pode haver hiperfoco em temas específicos

Comunicação

Geralmente preservada

Pode haver atraso, ecolalia ou linguagem literal

Interesses

Amplos, mudam com frequência

Restritos e intensos

Comportamentos repetitivos

Incomuns

Comuns (estereotipias, rituais, rotinas)

Flexibilidade cognitiva

Pode se adaptar com dificuldade

Alta rigidez de pensamento e resistência a mudanças

Motivação social

Busca interação, mesmo que de forma impulsiva

Interação pode ser limitada ou atípica

Como essas condições coexistem na prática

Na prática clínica e no dia a dia, uma criança ou adulto pode apresentar sintomas de ambos os transtornos, o que demanda uma abordagem terapêutica integrada. Por exemplo:

  • Uma pessoa com TEA e TDAH pode ter hiperfoco em temas de interesse (característica do autismo), mas ainda assim apresentar grande dificuldade de concentração em atividades que não são de seu interesse imediato (característica do TDAH).

  • A impulsividade do TDAH pode se somar à dificuldade de compreender regras sociais do autismo, aumentando os desafios de convivência em grupo.

  • Estratégias visuais e previsibilidade (mais usadas no TEA) podem ser combinadas com técnicas de reforço de foco, organização e controle de impulsividade (comuns no manejo do TDAH).

O suporte deve ser individualizado, considerando o perfil da pessoa e não apenas o diagnóstico. Medicações estimulantes, como o metilfenidato, são usadas em alguns casos de TDAH com TEA, mas requerem avaliação cuidadosa, pois pessoas autistas podem ter maior sensibilidade a efeitos colaterais.

Conclusão

TDAH e TEA são condições diferentes, mas que podem coexistir em uma mesma pessoa. Diferenciar o TDAH puro do TDAH associado ao autismo é essencial para garantir estratégias de apoio que respeitem a singularidade de cada indivíduo. O diagnóstico preciso e o olhar interdisciplinar permitem intervenções mais eficazes e uma vida com mais qualidade e autonomia.

Entender essas diferenças é uma forma de acolher melhor — seja em casa, na escola, no consultório ou na sociedade.

Referências bibliográficas

  1. American Psychiatric Association. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5ª ed. Artmed, 2014.

  2. Leitner, Y. (2014). The co-occurrence of autism and attention deficit hyperactivity disorder in children – what do we know? Frontiers in Human Neuroscience, 8, 268. https://doi.org/10.3389/fnhum.2014.00268

  3. Antshel, K. M., Zhang-James, Y., & Faraone, S. V. (2013). The comorbidity of ADHD and autism spectrum disorder. Expert Review of Neurotherapeutics, 13(10), 1117–1128. https://doi.org/10.1586/14737175.2013.840417

  4. Ministério da Saúde. Linha de cuidado para pessoas com TEA na RAPS/SUS. Brasília: 2021.

  5. Cortese, S. (2020). Pharmacologic treatment of attention deficit–hyperactivity disorder. New England Journal of Medicine, 383(11), 1050-1056.tdah+

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