Animais treinados, especialmente cães, desempenham um papel valioso no suporte a pessoas autistas. Neste post, explicamos as diferenças entre cão de serviço, cão de suporte emocional e cão de terapia, além dos cães de alerta médico e mobilidade. Também mostramos quais outros animais podem ajudar na qualidade de vida de pessoas com TEA e necessidades especiais.
O vínculo entre animais e autismo é cada vez mais reconhecido como uma ferramenta eficaz no apoio ao bem-estar físico e emocional de pessoas no espectro autista. Cães especialmente treinados — como os cães de serviço, cães de suporte emocional, cães de terapia e outros — têm se mostrado aliados importantes para promover segurança, autonomia, regulação emocional e interação social. Mas você sabia que não são apenas os cães que podem desempenhar esse papel? Cavalos, gatos e até golfinhos também são utilizados em contextos terapêuticos com resultados promissores.
Neste post, vamos apresentar uma visão geral sobre os principais tipos de cães de apoio e suas funções, incluindo os cães de alerta médico e cães de mobilidade, além de explorar outras espécies utilizadas como apoio terapêutico para pessoas com autismo e outras necessidades especiais.
Cães de Serviço (ou de Assistência)
Os cães de serviço são treinados para executar tarefas específicas que ajudam pessoas com deficiência. No contexto do autismo, esses cães podem ser treinados para:
-
Impedir que uma criança fuja (comum em casos de “elopement”).
-
Interromper comportamentos repetitivos ou de risco.
-
Proporcionar estabilidade sensorial com contato físico firme.
-
Ajudar em situações de estresse intenso, como uma crise (meltdown).
Esses cães têm direitos legais para acompanhar seu tutor em locais públicos, inclusive escolas, transporte e estabelecimentos comerciais, conforme previsto pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015).
Cão de Alerta Médico
O cão de alerta médico é treinado para detectar alterações fisiológicas no organismo de seu tutor. Em autistas com comorbidades como epilepsia ou diabetes tipo 1, esses cães podem:
-
Identificar a aproximação de uma crise convulsiva antes de ela ocorrer.
-
Detectar variações perigosas de glicose no sangue.
-
Alertar pais ou cuidadores rapidamente em situações de emergência.
-
Ajudar a buscar ajuda ou acionar sistemas de emergência adaptados.
Esses cães são fundamentais para oferecer mais segurança e autonomia, especialmente em ambientes onde o tutor esteja fora da supervisão direta de um adulto ou profissional de saúde.
Cão de Mobilidade
O cão de mobilidade é treinado para ajudar pessoas com limitações motoras a se locomover com mais segurança e independência. Entre suas funções, estão:
-
Auxiliar no equilíbrio durante caminhadas.
-
Buscar objetos no chão.
-
Abrir e fechar portas.
-
Ajudar o tutor a se levantar após quedas.
Embora sejam mais comuns em pessoas com deficiência física, alguns autistas com dificuldades motoras ou coordenação sensorial e motora também se beneficiam do suporte desses cães. Em casos de autismo com paralisia cerebral associada ou com atrasos significativos na marcha, o cão de mobilidade pode ser essencial.
Cães de Suporte Emocional
Diferentemente dos cães de serviço, os cães de suporte emocional não são treinados para tarefas específicas. Sua função é oferecer conforto emocional, ajudando a reduzir sintomas de ansiedade, depressão ou estresse. Muitas pessoas autistas, especialmente adultos, se beneficiam desse tipo de apoio para lidar com a sobrecarga sensorial ou a solidão.
Contudo, cães de suporte emocional não têm os mesmos direitos legais que cães de serviço em locais públicos. Seu acesso pode ser restrito a ambientes onde a presença de animais não é autorizada, exceto quando há autorização específica.
Cães de Terapia
Cães de terapia são treinados para interagir com grupos ou indivíduos em contextos clínicos ou educacionais, como:
-
Clínicas multidisciplinares.
-
Hospitais e instituições de saúde.
-
Escolas inclusivas.
-
Centros de reabilitação.
Esses cães atuam junto com profissionais da saúde e educação, promovendo um ambiente mais acolhedor, diminuindo a ansiedade social, encorajando a comunicação e favorecendo o vínculo emocional.
Outros Animais de Apoio no Autismo
Além dos cães, outras espécies vêm sendo estudadas e utilizadas com sucesso em intervenções com pessoas autistas. Veja alguns exemplos:
Cavalos – Equoterapia
A equoterapia é uma prática reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e utilizada no Brasil com excelentes resultados. A movimentação do cavalo estimula o sistema sensório-motor e promove equilíbrio, postura, atenção e autoconfiança.
Gatos
Gatos domésticos podem oferecer companhia, regulação emocional e suporte sensorial, especialmente para pessoas com perfil mais reservado.
Golfinhos – Delfinoterapia
Apesar de polêmica e menos acessível, a delfinoterapia envolve a interação controlada com golfinhos em piscinas supervisionadas. Sua eficácia ainda está em debate, mas muitos relatam experiências positivas.
Roedores e outros pets
Coelhos, porquinhos-da-índia e até tartarugas podem proporcionar companhia e estabilidade emocional, além de ajudar no desenvolvimento da rotina e do cuidado com o outro.
Diferenças Importantes Entre os Tipos de Cães
Tipo de Cão |
Função Principal |
Treinamento Específico |
Direito Legal de Acesso |
Uso em Autismo |
---|---|---|---|---|
Cão de Serviço |
Tarefas específicas e segurança |
Sim |
Sim |
Muito eficaz em TEA moderado a severo |
Cão de Alerta Médico |
Detectar alterações médicas (ex.: convulsão) |
Sim |
Sim |
Essencial para autistas com epilepsia |
Cão de Mobilidade |
Auxílio motor e locomoção |
Sim |
Sim |
Indicado para autistas com déficits motores |
Cão de Suporte Emocional |
Apoio emocional e conforto |
Não obrigatório |
Não |
Muito usado por adultos autistas |
Cão de Terapia |
Apoio em terapias e escolas |
Sim, sob supervisão |
Não |
Atua em grupos ou com terapeutas |
Conclusão
A relação entre animais e autismo é rica, afetiva e transformadora. Compreender as funções e características dos diferentes tipos de cães — como os de serviço, alerta médico, mobilidade, suporte emocional e terapia — permite fazer escolhas mais conscientes e seguras. Além dos cães, outros animais também podem colaborar na melhoria da qualidade de vida de pessoas com autismo, contribuindo com o bem-estar físico, emocional e social.
Referências Bibliográficas
-
Esnayra, J., & Love, C. (2021). Psychiatric Service Dogs: A guide for mental health professionals. Service Dog Books.
-
Grandin, T. (2014). Animals in Translation: Using the Mysteries of Autism to Decode Animal Behavior. Scribner.
-
American Kennel Club (AKC). “Service Dogs, Therapy Dogs, Emotional Support Dogs: What’s the Difference?” Disponível em: https://www.akc.org
-
Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Projeto PET-Terapia.
-
Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-Brasil). https://www.equoterapia.org.br
-
Conselho Federal de Medicina – CFM. Resolução nº 2.267/2020.
-
Autism Speaks. “Service Dogs and Autism”. Disponível em: https://www.autismspeaks.org
-
Shaw, D. M. et al. (2023). Medical Alert Dogs for People with Autism and Epilepsy: A Systematic Review. Journal of Autism and Developmental Disorders.