Comportamentos autoestimulantes, também conhecidos como estereotipias, são formas comuns de autorregulação em pessoas com TEA. Este post explica o que são esses comportamentos, como diferenciar entre estereotipias e outras formas de regulação sensorial, quando é importante observar com mais atenção e como apoiar sem reprimir.
No universo do Transtorno do Espectro Autista (TEA), os comportamentos autoestimulantes — frequentemente chamados de estereotipias — são muitas vezes os primeiros sinais visíveis percebidos por familiares e educadores. Mover as mãos repetidamente, balançar o corpo ou repetir sons são exemplos comuns. Mas você sabia que esses comportamentos têm função e podem até ser benéficos para o bem-estar da pessoa autista? Compreender a autoestimulação é essencial para acolher, apoiar e respeitar a individualidade de quem está no espectro.
O que é autoestimulação?
Autoestimulação é a repetição de movimentos, sons ou comportamentos que fornecem estímulo sensorial. Esses comportamentos podem envolver diferentes sentidos — visão, audição, tato, paladar e propriocepção (consciência corporal). São formas naturais de o cérebro buscar equilíbrio, conforto ou organização.
No contexto do TEA, os comportamentos autoestimulantes muitas vezes ajudam a:
•Reduzir a ansiedade;
•Organizar informações sensoriais do ambiente;
•Focar a atenção;
•Expressar sentimentos quando a comunicação verbal é limitada.
Estereotipias x regulação sensorial
Nem toda autoestimulação é uma estereotipia, e nem toda estereotipia é prejudicial. As estereotipias são formas visíveis de autoestimulação motora ou vocal (ex: bater as mãos, ecolalia, girar objetos). Já outras formas de regulação sensorial podem ser menos perceptíveis, como mascar chiclete, usar fones de ouvido ou manipular texturas específicas com as mãos ou os pés.
Diferenças principais:
Estereotipias |
Regulação sensorial mais sutil |
---|---|
Visíveis e repetitivas |
Podem passar despercebidas |
Costumam ocorrer em momentos de excitação ou estresse |
Ocorrem como estratégia de equilíbrio sensorial |
Frequentemente estigmatizadas |
Socialmente mais aceitas |
Quando observar com mais atenção?
Embora a autoestimulação seja parte do repertório de muitas pessoas autistas e nem sempre exija intervenção, é importante observar:
•Se o comportamento coloca a pessoa em risco (ex: morder com força, bater a cabeça);
• Se interfere significativamente em atividades funcionais, como aprender, socializar ou se comunicar;
•Se há aumento abrupto na frequência ou intensidade, o que pode indicar estresse, dor ou sobrecarga sensorial.
Nesses casos, é essencial buscar o apoio de uma equipe multidisciplinar: terapeuta ocupacional, psicólogo, psiquiatra, neuropediatra e fonoaudiólogo.
Como apoiar sem reprimir?
Muitos comportamentos autoestimulantes não precisam ser “corrigidos”. Em vez de tentar eliminar, é mais saudável compreender o porquê e oferecer apoio. Veja algumas estratégias:
1.Observe o contexto: quando o comportamento ocorre? O que pode estar causando?
2.Ofereça alternativas seguras: se há risco, redirecione para opções sensoriais mais seguras (ex: mordedores, almofadas táteis).
3.Crie ambientes sensorialmente acolhedores: reduza luzes fortes, ruídos excessivos e outras fontes de desconforto.
4.Use a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) quando a linguagem verbal não estiver desenvolvida — isso pode reduzir frustrações.
5.Não reprima com broncas ou punições: isso pode gerar ainda mais estresse e mascarar sinais importantes de sobrecarga.
6.Eduque a comunidade escolar e familiar: o respeito à neurodiversidade deve ser promovido em todos os contextos.
Conclusão
Comportamentos autoestimulantes são expressões legítimas de autorregulação para muitas pessoas com TEA. Eles não são “errados” ou “anormais”, mas sim sinais de um cérebro que está tentando se organizar. Quando compreendidos com empatia, podem ser integrados ao dia a dia sem causar prejuízo — e, muitas vezes, podem até ser aliados na aprendizagem e no bem-estar. Apoiar sem reprimir é um dos caminhos para uma convivência mais respeitosa e inclusiva.
Referências bibliográficas:
•American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5®). Arlington: American Psychiatric Publishing.
•Grandin, T. (2006). Pensando em imagens e outras informações sobre minha vida com autismo. Editora Pensamento.
•Schaaf, R. C., & Mailloux, Z. (2015). Clinician’s guide for implementing Ayres Sensory Integration: Promoting participation for children with autism. AOTA Press.
•Organização Mundial da Saúde. (2022). Guia para intervenções em saúde mental e desenvolvimento neurológico na infância.
•Paula, C. S., et al. (2017). Transtorno do Espectro do Autismo: avaliação, diagnóstico e intervenções. Instituto PENSI/Hospital Sabará.