Autoestimulação, stimming e estereotipia são termos frequentemente usados para descrever certos comportamentos repetitivos observados em pessoas autistas. Mas será que são sinônimos? Este post esclarece as diferenças e semelhanças entre esses conceitos, por que eles acontecem e como devem ser compreendidos e respeitados.
No universo do autismo, é comum ouvir termos como autoestimulação, stimming e esteriotipia. Eles aparecem em conversas com profissionais de saúde, materiais informativos e no próprio cotidiano de famílias e indivíduos autistas. No entanto, nem sempre está claro se esses conceitos significam a mesma coisa ou se existem distinções importantes entre eles.
Compreender essas expressões é essencial não só para desmistificar comportamentos comuns do TEA, mas também para promover acolhimento, respeito e intervenções mais humanizadas.
O que é autoestimulação (ou autostimulação)?
Autoestimulação, ou comportamentos autoestimulantes, são ações repetitivas que envolvem movimentos corporais, sons ou manipulação de objetos. Elas têm como objetivo a regulação sensorial, emocional ou cognitiva. São estratégias que o próprio corpo encontra para lidar com o excesso ou falta de estímulo do ambiente.
Exemplos comuns incluem:
•Balançar o corpo para frente e para trás
•Estalar os dedos
•Bater objetos repetidamente
•Fazer sons ou repetir frases
Stimming: uma tradução cultural da autoestimulação
O termo stimming é a abreviação em inglês de “self-stimulatory behavior” e tem ganhado popularidade inclusive no Brasil, especialmente nas redes sociais e entre autistas adultos. Embora seja equivalente a autoestimulação, muitos autistas preferem o uso de stimming por seu tom menos clínico e mais relacionado à experiência vivida.
Para algumas pessoas autistas, stimming é uma forma de conforto, prazer, regulação emocional ou uma maneira de se concentrar.
Importante: nem todo stimming é problemático ou prejudicial — na maioria dos casos, é inofensivo e funcional.
Esteriotipias: termo técnico com múltiplas interpretações
Estereotipias são descritas, na literatura médica e psicológica, como movimentos repetitivos e aparentemente sem função, comuns em diversos diagnósticos neurológicos e psiquiátricos, incluindo o autismo.
Contudo, essa definição tem sido amplamente criticada. Muitos pesquisadores e autistas argumentam que os comportamentos têm sim função — ainda que subjetiva — como regulação sensorial, resposta ao estresse ou forma de comunicação.
Diferencial:
Enquanto estereotipia é um termo clínico, muitas vezes usado de forma pejorativa ou patologizante, autoestimulação e stimming têm conotações mais neutras e inclusivas.
São a mesma coisa, então?
Depende do ponto de vista.
•Sim, quando falamos de comportamentos repetitivos comuns ao TEA, os três termos podem estar se referindo à mesma manifestação.
•Não exatamente, se considerarmos a origem e o uso de cada termo. “Estereotipia” é uma designação médica; “autoestimulação” tem uma abordagem mais descritiva; e “stimming” traz um viés mais identitário e vivencial.
Por que esses comportamentos acontecem?
Esses comportamentos podem ocorrer por diversos motivos:
•Regulação sensorial (hiper ou hipo reatividade)
•Autorregulação emocional (alívio da ansiedade, tédio ou frustração)
•Expressão de alegria ou entusiasmo
•Tentativa de manter o foco
Quando observar com mais atenção?
Embora esses comportamentos sejam naturais, há momentos em que é importante buscar apoio profissional:
•Quando envolvem risco à integridade física (ex: se bater ou morder)
•Quando interferem de forma significativa em atividades da vida diária
•Quando indicam sobrecarga sensorial constante
Como apoiar sem reprimir
1.Observe o contexto: o comportamento é realmente um problema ou apenas incomoda por não ser convencional?
2.Ofereça alternativas: objetos sensoriais, como fidget toys, podem ajudar.
3.Crie um ambiente acolhedor: com menos estímulos aversivos.
4.Evite punições: redirecionar é sempre melhor do que reprimir.
5.Respeite o tempo da pessoa: às vezes, o stimming é a melhor ferramenta de autorregulação disponível.
Conclusão
Autoestimulação, stimming e estereotipias fazem parte do repertório comportamental de muitas pessoas autistas, especialmente como estratégias de regulação emocional e sensorial. Ao invés de buscar a extinção desses comportamentos, é fundamental compreendê-los, acolhê-los e, quando necessário, oferecer apoio respeitoso. Educação, empatia e escuta ativa são os melhores caminhos para promover autonomia e bem-estar.
Referências bibliográficas
•American Psychiatric Association. (2013). DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.
•Kapp, S. K., Gillespie-Lynch, K., Sherman, L. E., & Hutman, T. (2013). Deficit, difference, or both? Autism and neurodiversity.
•Grandin, Temple (2014). O Cérebro Autista. Editora Gente.
•Bogdashina, O. (2016). Autism and the Edges of the Known World: Sensitivities, Language, and Constructed Reality. Jessica Kingsley Publishers.
•Spectrum News. What is stimming? Disponível em: https://www.spectrumnews.org