Dia do Professor: ensinar é também aprender com a diversidade

Celebrado em 15 de outubro, o Dia do Professor é uma data para reconhecer o papel transformador dos educadores. Muito além do ensino tradicional, o professor é o mediador que ajuda cada aluno a encontrar seu próprio caminho de aprendizagem.

Neste artigo, destacamos especialmente a importância dos professores na inclusão de alunos autistas, suas vivências e os desafios de tornar a escola um espaço para todos.

O professor é um dos pilares da educação inclusiva.

Todos os dias, milhares de educadores em todo o Brasil enfrentam o desafio — e a beleza — de ensinar em contextos diversos, acolhendo alunos com diferentes ritmos, formas de pensar e maneiras de se comunicar.

No Dia do Professor, homenageamos não apenas o ofício, mas também o compromisso humano e ético de quem acredita que ensinar é incluir.

Entre tantos aprendizados que a sala de aula proporciona, a convivência com alunos autistas tem ensinado muito sobre empatia, paciência e novas formas de enxergar o mundo.

A importância do professor na inclusão escolar

A escola é um espaço essencial de convivência e desenvolvimento.

E o professor é a ponte entre o aluno e o conhecimento — aquele que adapta, traduz e dá sentido às experiências de aprendizagem.

No caso dos alunos autistas, o papel do professor é ainda mais significativo. Ele ajuda a criar previsibilidade, organiza o ambiente, utiliza recursos visuais, compreende sinais não verbais e, sobretudo, acolhe as singularidades.

Cada ajuste, cada gesto de paciência, cada estratégia personalizada faz diferença.

Quando um professor reconhece que o aluno autista aprende de modo diferente, mas é igualmente capaz, ele abre caminho para uma educação realmente inclusiva.

Os desafios do cotidiano docente

Ensinar em uma perspectiva inclusiva não é simples. Muitos professores relatam dificuldades por falta de apoio, formação e recursos pedagógicos.

Ainda assim, são inúmeros os educadores que buscam estratégias, estudam por conta própria e reinventam suas práticas para garantir que nenhum aluno fique para trás.

A docência, especialmente na inclusão, exige escuta ativa, empatia e colaboração.

E, mais do que qualquer técnica, o que move esses profissionais é o compromisso humano com o desenvolvimento de cada estudante.

Aprendendo com a experiência dos professores

Nada traduz melhor a realidade da inclusão do que as vozes de quem está todos os dias em sala de aula.

Por isso, convidamos três professores para compartilhar suas experiências com alunos autistas, mostrando como a convivência diária transforma tanto o ensino quanto o olhar sobre a educação.

“Trabalhar com uma criança autista levou-me a sair da minha zona de conforto e a mergulhar nos verdadeiros desafios da pedagogia e da abordagem clínica. Conviver com uma família de um pré-adolescente com autismo nível III de suporte transformou o meu olhar sobre o outro e sobre mim mesma. As certezas deram lugar ao pensamento reflexivo, à empatia e à humildade, alicerces de uma Psicoeducação verdadeiramente eficaz. Compreendi que ser um bom profissional é reconhecer a grandeza do ser humano para além das suas limitações. Hoje, trabalho por paixão com pessoas autistas e suas famílias, aprendendo diariamente que a inclusão não é apenas uma prática — é uma expressão genuína de amor, respeito e evolução humana.”

– Nora Cavaco. Autora do livro: Autismo e os Neurodivergentes (WAK Editora)-

 

“Ser professora de estudantes autistas é, para mim, uma jornada de descobertas diárias. A cada novo dia, reafirmo que nenhum aluno é igual ao outro. Eles me mostram que o autismo é como um lindo arco-íris — cada um com sua tonalidade única, mesmo que compartilhem o mesmo diagnóstico. Meu maior desafio surgiu quando recebi meu primeiro aluno de nível 3. Foi um momento de insegurança, mas também de abertura para o aprendizado mútuo. Juntos, fomos construindo caminhos. Mesmo sendo não verbal e sem uso da Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) sistematizada, ele já consegue me conduzir ao que deseja, compreende comandos simples e interage à sua maneira. Uma estratégia que tem funcionado bem é iniciar o trabalho a partir de seus hiperfocos. Isso favorece a criação de vínculo e torna o processo de ensino mais significativo. Também busco oferecer diferentes formas de aprendizado, observando qual delas melhor atende às suas especificidades. Após mais de dez anos de convivência com estudantes autistas, o que posso afirmar com convicção é que precisamos de mais empatia. É essencial entender que ser autista não é sinônimo de usar abafador ou cordão colorido. Cada sujeito é único, e nosso papel como educadores é enxergar além dos estereótipos, acolher com respeito e ensinar com sensibilidade.”

–  Aline Bittencourt. Autora do livro: Autismo e Ciências. O protagonismo de estudantes com TEA” e coautora do livro: Guia de Letramento e Alfabetização .O que se lê e o que se escreve em uma abordagem afetiva (WAK Editora)-

 

Sou TEA Mulher adulta e na delicadeza de um poema, transmito o meu mais aprender que ensinar!
Em cada olhar que brilha diferente,
descubro mundos que o silêncio guarda.
Alunos autistas, com gestos sutis,
ensinam-me a escutar o que não se diz.
Há poesia no balançar das mãos,
na rotina que acalma corações.
Cada avanço, por menor que pareça,
é festa, é dança, é fortaleza.
Construímos pontes com paciência,
palavras viram luz na consciência.
Num abraço tímido, há confiança,
num olhar fugidio, esperança.
Eles me mostram que o tempo é outro,
que o afeto não precisa de alarde.
Ser educador é ser jardineiro:
cultivar com amor, colher com verdade.
E assim, entre gestos e silêncios,
aprendo a ser mais humana, inteira.

– Valéria Sales. Autora do livro: Transtorno do Espectro Autista – Oficinas multissensoriais (WAK Editora)-

Esses depoimentos mostram que ensinar também é aprender, e que o encontro entre professores e alunos autistas é uma via de mão dupla: ambos crescem, ambos se transformam.

Educar é semear possibilidades

Ser professor é acreditar no potencial de cada aluno.

É compreender que a educação inclusiva não se resume a estar na mesma sala, mas a pertencer a um espaço que reconhece e valoriza as diferenças.

Neste Dia do Professor, celebramos aqueles que fazem da sala de aula um lugar de respeito, paciência e amor ao ensinar.

Aos professores que acreditam na diversidade, que buscam novas formas de ensinar e aprendem todos os dias com seus alunos autistas — nossa profunda admiração.

Referências bibliográficas

  • BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência.

  • Mantoan, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer? Moderna, 2020.

  • Mendes, E. G. Educação inclusiva: construindo caminhos. Ed. Autêntica, 2022.

  • Cunha, E. Educar para incluir: um desafio contemporâneo. Vozes, 2019.

  • UNESCO. Educação Inclusiva: o caminho para o futuro. 2023.

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