ARTIGOS

Priscila Romero

Licenciada em Pedagogia. Pós-graduada em Orientação Educacional e Pedagógica, Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e Educação Especial com Ênfase em Autismo. Autora do livro “O Aluno Autista – avaliação, inclusão e mediação” (Wak Editora)

Inclusão, avaliação e autismo

O artigo “Inclusão, avaliação e autismo”, escrito por Priscila Romero, pedagoga e especialista em Educação Especial e Inclusiva, discute os desafios e avanços na avaliação de estudantes autistas. A autora apresenta bases legais, reflexões sobre práticas avaliativas e sugestões de adaptações que promovem equidade, respeito às singularidades e inclusão real no processo educacional.

Hoje, sabemos que Autismo é um transtorno neurológico que acarreta prejuízos nas funções sociais, comunicativas e comportamentais. Apesar de ser classificado como um espectro e tais indivíduos não apresentarem sempre as mesmas características, podemos dizer que: demonstram comportamentos que variam entre a fala repetida e o mutismo, a hiperatividade e ausência de atividade; disfunções sensoriais; dificuldades para entender metáforas, ironias, expressões faciais e corporais; além de prejuízos na coordenação motora.

A Educação Especial, por muitos anos, seguiu separadamente ao ensino regular, dito dos “normais”. A Constituição da República, de 1988, reafirmou que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” e estipulou os direitos sociais do homem, sendo o direito à educação o primeiro a ser mencionado.   A Lei Máxima também assegurou a “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”, e a garantia de “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”.

Infelizmente, notamos que poucas escolas se prepararam para receber alunos “especiais”. A maioria das instituições da rede privada ainda exclui esse alunado. E de todos os obstáculos gerados por ausência de conhecimento, percebemos que a avaliação desses alunos ainda é a maior de todas as dúvidas.

Ainda hoje, adotamos o modelo estrutural de escola firmado no século XVI. Para acompanhar a aprendizagem dos educandos “normais”, criou-se a avaliação em forma de exame – ação, meramente, classificatória.

Mas o que será avaliação? Simplesmente, verificar o conhecimento do aluno, em um único momento, excluindo-o do processo ensino-aprendizagem? Ou será algo amplo e complexo, que acolhe e inclui o discente?

Na verdade, a função da avaliação é garantir o sucesso do processo educacional. E o professor deve encarar a prática avaliativa, também, como ferramenta de retorno sobre seu trabalho.

Como profissional de Pedagogia e Especialista em Educação Especial/Inclusiva, não posso deixar de mencionar alguns documentos que nos dão bases para trabalhar em sala de aula.

Saberes e Práticas da Inclusão (MEC) reforçam o pensamento sobre revermos as práticas avaliativas, pois as mesmas continuam sendo tradicionais, normativas, padronizadas e classificatórias. A avaliação deve estar a serviço da criação de apoios ao progresso de todos. Avaliação tem como finalidade conhecer para intervir, de modo preventivo e/ou remediativo, sobre as variáveis identificadas como barreiras para a aprendizagem e para a participação.

Também é interessante estudar as Diretrizes Nacionais de Educação Especial, uma vez que estas retratam a avaliação como um processo permanente de análise das variáveis que interferem no sistema, cuja finalidade é identificar potencialidades e necessidades dos alunos e as condições da escola para respondê-las. Vemos a importância do compromisso de toda a instituição educacional!

E os PCNs nos lembram que toda avaliação só pode ocorrer uma vez relacionada com as oportunidades oferecidas, levando em conta os desafios que todos os alunos estão em condições de enfrentar.

As adaptações propostas pela LDBEN, especificamente, quanto às avaliações, são forma de possibilitar autonomia aos alunos com nee. O MEC afirma que os mestres sentem urgência de adaptar a forma avaliativa para tais alunos. Sendo assim, se continuarmos com a função normativa e seletiva da avaliação, comparando uns aos outros, os “especiais” poderão ser prejudicados nesse “confronto”, visto que muitos não alcançarão todos os objetivos propostos pelo ensino “padrão” ministrado.

Pensando em formas avaliativas inclusivas, mencionamos: observação e registro, portfólio e diário do professor. Observação e registro devem ser feitos de modo que o educador analise seu aluno em todos os aspectos: cognitivo, social e afetivo – de forma contínua e periódica, descrevendo objetivos a serem alcançados, recursos utilizados e a maneira como o aluno saiu. Os PCNs relembram que a avaliação democrática poderá ocorrer com os seguintes códigos: oral, escrito, gráfico, numérico e pictórico.

Quanto aos alunos com autismo, que costumam pensar por imagens, sendo as palavras de pouca importância, diferentemente aos demais discentes, aconselhamos as adaptações seguintes.

Com trabalhos, testes e provas, ressaltamos detalhes que aprendemos com a teoria e a prática. Imagens coloridas e ilustrações atraem muito a atenção. Essas podem ser elaboradas com desenhos do interesse do aluno. Em uma questão matemática, podemos contar quantos cães existem dentro de um canil. Indivíduos com autismo costumam ter interesses repetitivos, por isso, devemos aproveitar, em algumas ocasiões, seus gostos.

Quanto aos textos, devem ser simples, curtos, breves. Objetivos, até mesmo, nos enunciados das questões. E por que não diagramar as perguntas sobre o texto, entre os parágrafos relativos às questões? O pupilo lê um pedaço do texto e, logo em seguida, responde ao que lhe foi perguntado.

Múltipla escolha, relacionar colunas, falso ou verdadeiro, facilitam o raciocínio. Avaliações orais podem ser boa opção, quando o aluno for capaz de se expressar oralmente. As tecnologias estão tão acessíveis que pelo celular podemos gravar ou filmar a realização da avaliação, a fim de obtermos uma prova da mesma, visto que o sistema assim exige.

Um ledor durante as avaliações, em outro ambiente será, também, uma possibilidade. O uso do material concreto como apoio durante a avaliação trará segurança. A calculadora é também uma boa opção, uma vez que devemos nos preocupar com o entendimento sobre a questão e a forma de resolução alcançada. A formatação da prova também deve ser salientada. Devemos evitar que uma mesma questão se quebre entre folhas. O simples mudar de páginas pode atrapalhar o alunado com nee. E quanto ao tempo, é importante que seja respeitado o limite do aluno.

Livro Publicado

  • O Aluno Autista – avaliação, inclusão e mediação (Capa Comum)

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