Medicamentos no Manejo dos Sintomas Relacionados ao Autismo

Foto de Volodymyr Hryshchenko

O uso de medicamentos no Transtorno do Espectro Autista (TEA) não tem como objetivo tratar o autismo em si, mas sim manejar sintomas associados que interferem na qualidade de vida da pessoa autista e de sua família. Entre os sintomas mais comuns estão a agressividade, irritabilidade, hiperatividade, distúrbios do sono e ansiedade. Neste post, explicamos como se dá a indicação medicamentosa, quais são os medicamentos mais utilizados e quais melhorias podem ser esperadas.

O Transtorno do Espectro Autista é uma condição do neurodesenvolvimento com manifestações variadas, e nem todos os autistas necessitarão de medicamentos. No entanto, alguns podem apresentar sintomas associados intensos que dificultam a participação em terapias, o convívio social ou o bem-estar geral. Nesses casos, o uso de medicamentos pode ser uma ferramenta complementar às intervenções comportamentais, educacionais e terapêuticas.

O manejo farmacológico deve ser sempre individualizado, feito por médico psiquiatra, psiquiatra infantil ou neuropediatra, com avaliação clínica detalhada e acompanhamento regular.

Quando o uso de medicamentos é indicado?

Medicamentos são indicados quando os sintomas associados ao autismo comprometem significativamente a qualidade de vida da criança, adolescente ou adulto autista. Entre os principais sintomas estáo:

  • Agressividade e comportamentos auto ou heteroagressivos;
  • Irritabilidade grave e crises de birra frequentes;
  • Ansiedade intensa ou transtornos de humor;
  • TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade);
  • Distúrbios do sono;
  • Estereotipias que causam prejuízo funcional;
  • Sintomas psicóticos ou de disfunção sensorial grave.

Medicamentos mais utilizados

A escolha do medicamento depende do perfil de sintomas e das características individuais do paciente. Os principais grupos são:

  1. Antipsicóticos atípicos
    Utilizados para irritabilidade, agressividade, comportamentos repetitivos graves e instabilidade emocional.
  • Risperidona: é o único medicamento aprovado pela ANVISA e FDA para tratamento de irritabilidade associada ao TEA.
  • Aripiprazol: também com boas evidências para agressividade e sintomas de agitação.
  1. Estimulantes
    Usados em casos de TEA com comorbidade de TDAH.
  • Metilfenidato (Ritalina®, Concerta®): melhora a atenção, reduz impulsividade e hiperatividade.
  • Lisdexanfetamina: alternativa com duração prolongada.
  1. Antidepressivos (ISRS)
    Indicado para transtornos de ansiedade, TOC e humor deprimido.
  • Fluoxetina, sertralina, escitalopram: atuam na melhora do humor, redução de obsessões e ansiedade.
  1. Melatonina
    Hormônio usado para regular o sono em crianças com dificuldade de iniciar ou manter o sono.
  2. Anticonvulsivantes
    Utilizados quando há comorbidade com epilepsia ou para estabilização do humor.
  • Valproato, lamotrigina, oxcarbazepina.

O que se pode esperar do uso de medicamentos?

  • Redução de crises de agressividade e irritabilidade intensa;
  • Melhora da atenção e da capacidade de participar de terapias;
  • Maior estabilidade emocional e redução da ansiedade;
  • Melhor qualidade do sono;
  • Redução de comportamentos disruptivos ou prejudiciais.

É importante destacar que os medicamentos não tratam o autismo em si, mas podem ser fundamentais para que o indivíduo tenha melhores condições de aprender, interagir e se desenvolver.

Riscos e cuidados no uso medicamentoso

  • Os efeitos colaterais variam conforme o medicamento, dose e organismo;
  • Pode haver ganho de peso, sonolência, agitação, cefaleia, alteração de apetite ou do sono;
  • A avaliação e acompanhamento constante por um profissional são indispensáveis;
  • Nunca se deve iniciar, suspender ou modificar medicamentos por conta própria.

Conclusão

O uso de medicamentos no manejo do autismo é uma ferramenta complementar, que deve ser utilizada com responsabilidade, indicação médica e dentro de um plano terapêutico individualizado. Quando bem conduzido, pode promover alívio de sintomas que dificultam a rotina e o desenvolvimento do autista, favorecendo sua participação nas intervenções e sua qualidade de vida.

O acompanhamento multidisciplinar, com envolvimento da família, é essencial para garantir segurança e resultados positivos a médio e longo prazo.

Referências bibliográficas

  • BRASIL. Diretrizes de Atenção à Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Ministério da Saúde, 2023.
  • HOSHINO, Y. et al. Pharmacological treatment in autism spectrum disorder: current status and future perspectives. Psychiatry and Clinical Neurosciences, 2022.
  • McDOUGLE, C. J. et al. Pharmacologic management of irritability in children and adolescents with autism spectrum disorder. CNS Drugs, 2020.
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