Meltdown e shutdown são reações comuns em pessoas autistas diante da sobrecarga sensorial ou emocional. Embora diferentes, ambas indicam que o autista chegou ao limite. Neste post, explicamos o que são, suas semelhanças e diferenças, por que acontecem e como apoiar durante e após essas crises.
Pessoas autistas, especialmente aquelas que lidam com desafios sensoriais, emocionais e sociais, podem apresentar comportamentos extremos como meltdown ou shutdown em momentos de sobrecarga. Embora esses dois termos sejam cada vez mais conhecidos, ainda são pouco compreendidos, o que pode levar a interpretações equivocadas e respostas ineficazes, como punições ou cobranças. Compreender essas manifestações é fundamental para promover respeito, acolhimento e estratégias eficazes de apoio.
O que são Meltdown e Shutdown?
Meltdown (colapso): é uma reação intensa, muitas vezes visível, em que a pessoa autista perde o controle das emoções e do corpo, podendo gritar, chorar, bater em si mesma ou em objetos, correr, jogar coisas ou se esconder. Pode parecer uma “birra” para quem observa, mas é uma resposta involuntária e desesperada a uma sobrecarga.
Shutdown (bloqueio): é uma reação mais interna e silenciosa. A pessoa se cala, se isola, evita contato visual, pode se paralisar, parecer “desligada” ou retraída. Em adultos, muitas vezes é confundido com desânimo ou timidez, mas na verdade é um colapso interno causado por esgotamento.
Por que eles acontecem?
Meltdowns e shutdowns são causados por sobrecargas sensoriais, emocionais, cognitivas ou sociais. Isso pode ocorrer em situações como:
•Ambientes muito barulhentos ou iluminados;
•Situações de estresse prolongado;
•Frustrações acumuladas;
•Mudanças inesperadas na rotina;
•Falta de compreensão das necessidades autistas;
•Excesso de estímulos ou de demandas sociais.
Ambos são formas do corpo e da mente autista dizerem: “isso é demais para mim agora”.
Semelhanças entre meltdown e shutdown
• Ambos são respostas à sobrecarga;
•Não são comportamentos intencionais ou manipulativos;
• Indicam que a pessoa não está mais conseguindo lidar com o ambiente;
• Requerem acolhimento, não punição;
• São comuns em pessoas autistas de todas as idades;
•Deixam a pessoa exausta e vulnerável depois da crise.
Diferenças principais
Característica |
Meltdown |
Shutdown |
---|---|---|
Tipo de reação |
Externa e explosiva |
Interna e silenciosa |
Comportamento típico |
Gritos, choro, movimentos bruscos |
Isolamento, imobilidade, mutismo |
Visibilidade |
Mais visível e interpretado como “crise” |
Mais sutil, podendo passar despercebido |
Tempo de recuperação |
Geralmente mais curto |
Pode durar horas ou até dias |
Risco |
Maior risco de autolesão ou exposição |
Menor risco físico, mas maior impacto emocional |
Como apoiar durante e após uma crise
Durante a crise
• Não minimize o que a pessoa está sentindo.
•Reduza estímulos: som, luz, toque e fala.
• Afaste curiosos e mantenha a privacidade.
•Evite questionamentos — a pessoa não consegue responder.
• Esteja disponível, mas respeite o espaço.
•Use linguagem simples e calma: “Você está seguro”, “Estou aqui com você”.
Após a crise
• Permita tempo para a recuperação.
•Ofereça itens de regulação: brinquedos sensoriais, fone com música, cobertor pesado, etc.
• Converse apenas quando a pessoa estiver pronta.
• Ajude a identificar gatilhos, mas sem julgar.
•Fortaleça a autoestima — a crise não define quem a pessoa é.
Conclusão
Meltdowns e shutdowns são formas legítimas de resposta ao estresse e à sobrecarga no autismo. Entender essas manifestações é um passo fundamental para oferecer apoio com empatia e acolhimento. Mais do que tentar “corrigir” o comportamento, o foco deve ser em prevenir as sobrecargas e garantir ambientes mais seguros e compreensivos. A regulação emocional é uma habilidade que pode — e deve — ser construída com o tempo, apoio e respeito.
Referências bibliográficas
•Attwood, T. (2016). O Guia Completo sobre a Síndrome de Asperger. M. Books.
•Grandin, T. (2020). O Cérebro Autista. BestSeller.
•Robertson, A. E., & Simmons, D. R. (2015). The sensory experiences of adults with autism spectrum disorder. Journal of Autism and Developmental Disorders.
•Kapp, S. K. (Ed.). (2020). Autistic Community and the Neurodiversity Movement: Stories from the Frontline. Palgrave Macmillan.
•Autism Speaks (2023). https://www.autismspeaks.org