Quando as palavras não vêm: entendendo o atraso na linguagem no autismo

A ausência ou atraso na linguagem verbal é um dos sinais mais comuns do autismo. Saber o que esperar em cada faixa etária, identificar quando se preocupar e quais intervenções buscar — incluindo o uso da Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA) — pode fazer toda a diferença no desenvolvimento da criança.

A linguagem é uma ponte entre o mundo interno e externo. Quando essa ponte demora a se formar ou não se constrói da maneira esperada, pais e cuidadores geralmente ficam em alerta — e com razão.

No contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA), o atraso ou ausência da linguagem verbal é uma das manifestações mais frequentes. Ainda que nem todas as pessoas autistas apresentem esse sintoma, ele é um sinal importante para o diagnóstico e para a definição de estratégias de intervenção.

Este post vai te ajudar a entender o que é esperado em cada faixa etária, quando é necessário buscar ajuda, que intervenções são eficazes e como a Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA) pode apoiar o desenvolvimento da linguagem e da autonomia da criança autista.

O que é esperado em cada faixa etária?

O desenvolvimento da linguagem pode variar, mas existem marcos esperados. Abaixo estão os principais indicativos segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a American Speech-Language-Hearing Association (ASHA):

0 a 6 meses:

•Vocalizações, choros diferentes para fome, dor ou sono.

•Contato visual e reação a sons.

7 a 12 meses:

•Balbucio com entonação (ex: “ba-ba”, “da-da”).

•Resposta ao nome e a comandos simples (“dá”, “vem”).

1 ano a 1 ano e meio:

•Primeiras palavras com significado.

•Compreensão de ordens simples (“pega a bola”).

1 ano e meio a 2 anos:

•Combinação de duas palavras (“mamãe vem”, “quer água”).

•Vocabular entre 20 e 50 palavras.

2 a 3 anos:

•Frases curtas e vocabulário crescente.

•Compreensão de perguntas simples.

3 a 4 anos:

•Frases mais complexas e clareza na fala.

•Uso de pronomes, plurais, verbos no tempo correto.

Quando uma criança não atinge esses marcos ou regrediu em alguma habilidade verbal, é recomendado procurar avaliação especializada.

Quando se preocupar?

Os sinais de alerta mais comuns incluem:

•Ausência de balbucios ou vocalizações até os 12 meses.

•Não falar nenhuma palavra até os 16 meses.

•Não formar frases de duas palavras até os 2 anos.

•Repetição contínua de palavras sem uso funcional (ecolalia).

•Regressão na linguagem já adquirida.

Esses sinais não significam necessariamente autismo, mas exigem investigação. O diagnóstico precoce permite intervenções mais eficazes e maior potencial de desenvolvimento.

Quais são os tipos de intervenção mais eficazes?

A intervenção precoce e interdisciplinar é essencial. Abaixo, algumas das abordagens mais recomendadas:

Fonoaudiologia

Profissionais especializados ajudam a desenvolver a linguagem receptiva (compreensão) e expressiva (fala), além de trabalhar com comunicação funcional.

Terapia ABA (Análise do Comportamento Aplicada)

Utiliza reforço positivo para ensinar habilidades de linguagem e comunicação, principalmente em crianças pequenas.

Integração com Terapia Ocupacional

Ajuda no desenvolvimento de habilidades motoras orais e comunicação não verbal.

Intervenção com suporte familiar

Pais e cuidadores são treinados para aplicar estratégias de comunicação no cotidiano, o que potencializa os ganhos da criança.

E quando a linguagem verbal não se desenvolve? Conheça a CAA

A Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA) é uma abordagem que oferece outras formas de comunicação além da fala. Pode ser usada temporariamente ou como principal meio de expressão.

Exemplos de CAA:

•Pranchas de comunicação com símbolos ou figuras (PECS – Picture Exchange Communication System).

•Aplicativos com voz sintetizada.

•Comunicação por gestos ou sinais.

A CAA não impede o desenvolvimento da fala — muito pelo contrário: estudos mostram que pode estimular a linguagem verbal, diminuindo frustrações e ampliando o repertório comunicativo.

Conclusão

A ausência ou atraso na linguagem verbal é um sinal importante e que merece atenção. Saber o que esperar em cada fase do desenvolvimento, buscar apoio especializado e utilizar recursos como a CAA pode transformar a trajetória de uma criança autista — promovendo mais autonomia, inclusão e qualidade de vida.

Quanto antes a intervenção começar, maiores são as chances de avanços significativos. Fique atento aos marcos do desenvolvimento e nunca hesite em procurar ajuda.

Referências bibliográficas:

•Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Cartilha Marcos do Desenvolvimento Infantil (2022).

•American Speech-Language-Hearing Association (ASHA). Speech and Language Milestones.

•American Academy of Pediatrics (AAP). Identifying Infants and Young Children With Developmental Disorders.

•Bondy, A. & Frost, L. PECS – Picture Exchange Communication System Training Manual.

•Grandin, Temple. O Cérebro Autista.

•Fernandes, F. D. M. Fonoaudiologia no Transtorno do Espectro Autista. Revista Distúrbios da Comunicação, 2021.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Talvez você curta: