O artigo da Dra. Emanoele Freitas esclarece o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), destacando seus sintomas, causas e impactos na vida da criança e da família. Com abordagem sensível e embasada, defende a importância do diagnóstico precoce, do apoio familiar e de intervenções terapêuticas eficazes. O texto reforça que, com acolhimento e orientação, é possível melhorar significativamente a convivência e o bem-estar.
Um comportamento difícil que vai além da birra comum.
O comportamento desafiador e a oposição às regras são, em certa medida, esperados em crianças e adolescentes durante determinadas fases do desenvolvimento. No entanto, quando esses comportamentos se tornam frequentes, intensos e prejudicam a vida familiar, escolar e social, pode-se estar diante de um quadro conhecido como Transtorno Opositivo Desafiador (TOD). Você já ouviu ou conhece alguém com esse diagnóstico.
O que é o TOD – Transtorno Opositivo Desafiador?
O Transtorno Opositivo Desafiador é um distúrbio de comportamento que se manifesta principalmente na infância e início da adolescência. Crianças ou jovens com TOD apresentam um padrão persistente de comportamentos negativos, desafiadores, desobedientes e hostis em relação a figuras de autoridade — como pais, professores e cuidadores.
Esses comportamentos vão além de uma birra ocasional ou de uma atitude rebelde. Eles incluem discussões frequentes com adultos, recusa ativa em obedecer as regras, irritabilidade, tendência a culpar os outros pelos próprios erros, e facilidade em perder a paciência. Esse transtorno também tem níveis e subtipos que são detalhados pelo DSM-5 e sua classificação por código pelo CID-11.
Características principais.
Algumas manifestações comuns do TOD incluem:
- Irritabilidade constante e explosões de raiva
- Desafiar ou discutir com adultos com frequência
- Recusa em seguir regras ou instruções
- Tendência a provocar ou incomodar os outros de propósito
- Dificuldade em aceitar limites ou frustrações
- Culpar os outros por seus próprios comportamentos
É importante destacar que esses comportamentos precisam estar presentes por pelo menos seis meses, de forma persistente, e causar prejuízo significativo na vida familiar, escolar ou social da criança.
O que dizem as estatísticas?
Estudos indicam que o TOD afeta cerca de 2% a 16% das crianças e adolescentes, com maior prevalência em meninos do que em meninas, especialmente em idades mais precoces. Em muitos casos, o TOD aparece em conjunto com outros transtornos, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), transtornos de aprendizagem, ansiedade ou depressão.
O que a ciência tem mostrado?
As causas do TOD são multifatoriais. A neurociência aponta para uma interação complexa entre fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais:
- Genética: Há maior probabilidade de TOD em crianças com histórico familiar de transtornos psiquiátricos.
- Cérebro: Estudos mostram alterações em áreas cerebrais responsáveis pelo controle de impulsos e emoções, e isso podemos ver no exame de EEG com mapeamento.
- Ambiente: Padrões parentais muito autoritários, negligentes ou inconsistentes, exposição precoce a situações de estresse ou violência e falta de vínculos afetivos seguros podem contribuir para a intensificação do transtorno.
Impactos na família
O TOD não afeta apenas a criança e isso posso falar com propriedade de causa, pois sou mãe de um jovem com TOD, o transtorno impacta diretamente a dinâmica familiar. Hoje nos atendimentos no consultório a primeira questão que sempre presencio são pais exaustos, frustrados, com sentimento de culpa, conflitos conjugais bem intensificados e dificuldades com os irmãos. Tudo isso torna o ambiente doméstico tenso e imprevisível, trazendo uma mudança drástica na dinâmica familiar e infelizmente de forma negativa.
Por isso, é essencial que o tratamento envolva não apenas a criança, mas toda a família com o treinamento parental, promovendo novas estratégias de comunicação, vínculo e manejo de comportamentos difíceis.
Caminhos terapêuticos
O tratamento do TOD deve ser individualizado e, muitas vezes, multidisciplinar. As abordagens mais eficazes incluem:
- Psicoterapia cognitivo-comportamental: Ajuda a criança a desenvolver habilidades sociais, controlar impulsos e reconhecer padrões de pensamento negativo.
- Treinamento para pais: Ensina estratégias para lidar com comportamentos desafiadores, estabelecer limites claros e reforçar atitudes positivas.
- Terapia familiar: Melhora a comunicação entre os membros da família e promove um ambiente emocional mais saudável.
- Abordagens escolares: A colaboração com professores e a adaptação do ambiente escolar também são fundamentais.
- Medicamentos: Em alguns casos, especialmente quando há comorbidades (como TDAH), o uso de medicamentos pode ser indicado por um profissional especializado.
Uma mensagem para os pais
Receber o diagnóstico de TOD pode ser difícil, mas também é um passo importante para entender melhor o comportamento da criança e buscar ajuda adequada e poder entender que a criança não faz aquilo porque quer e sim porque tem uma patologia neurológica. Com suporte, intervenção e estratégias eficazes, é possível melhorar significativamente a qualidade de vida da criança e da família. O TOD pode regredir de nível quando feito a intervenção adequada, meu Eros tinha o Diagnóstico de TOD Severo e hoje estamos em nível Leve o que já nos dá condições de atividades sociais e qualidade de vida melhor.
Lembre-se: o TOD não define quem seu filho é, e sim, representa um desafio que pode ser superado com apoio, acolhimento e informação.
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