10 formas de lidar com o interesse restrito de crianças com TEA

Foto de RDNE Stock project

Os interesses restritos são uma característica comum entre crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, quando bem compreendidos, podem se tornar aliados no desenvolvimento infantil. Neste post, apresentamos 10 estratégias práticas para lidar com esses interesses, equilibrando acolhimento, aprendizado e bem-estar.

Muitas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) desenvolvem interesses intensos e restritos por determinados temas, objetos ou atividades. Esses interesses podem variar desde trens, mapas, letras, números, personagens, até temas inusitados, como marcas de elevadores, tomadas ou tipos de papel.

Embora alguns adultos possam enxergar esses focos de atenção como obsessivos ou limitantes, especialistas da área do autismo apontam que os interesses restritos podem ser aproveitados de forma produtiva, especialmente na educação, no desenvolvimento de habilidades sociais e na autorregulação emocional.

Por isso, entender como lidar com os interesses restritos de maneira positiva e estratégica é essencial para pais, educadores e profissionais que convivem com crianças autistas.

1. Não proíba o interesse: acolha com empatia

A primeira e mais importante dica é não tratar o interesse como algo negativo. Para a criança autista, esse tema pode ser uma fonte de conforto, prazer e segurança. Proibir ou ridicularizar pode gerar angústia, isolamento e perda de confiança. Ao invés disso, demonstre curiosidade, escute e valide o entusiasmo da criança.

2. Use o interesse como ponte para o aprendizado

Transforme o interesse em um recurso pedagógico. Se a criança gosta de trens, por exemplo, use imagens, histórias, vídeos ou atividades matemáticas relacionadas a trens para ensinar novos conteúdos. Essa abordagem aumenta o engajamento e melhora a retenção do aprendizado.

3. Expanda o repertório partindo do interesse

Ao invés de tentar mudar completamente o foco da criança, use o interesse como ponto de partida para ampliar seu repertório. Uma criança apaixonada por animais marinhos pode ser incentivada a aprender sobre oceanografia, geografia, meio ambiente, ciências, etc.

4. Estimule a comunicação com base no interesse

Muitas crianças autistas têm dificuldades de comunicação. Usar o interesse como tema de conversa pode estimular a fala, a troca e a linguagem funcional. Incentive a criança a explicar, contar, desenhar ou apresentar o que sabe sobre o assunto.

5. Utilize o interesse como estratégia de regulação emocional

O interesse restrito pode funcionar como um recurso de autorregulação, ajudando a criança a se acalmar em momentos de ansiedade ou sobrecarga sensorial. Ter acesso a objetos, vídeos ou imagens relacionados ao interesse pode trazer conforto e estabilidade emocional.

6. Estabeleça limites saudáveis com previsibilidade

Embora o interesse seja importante, é necessário ajudar a criança a entender limites de tempo e contexto. Para isso, use recursos visuais (como cronômetros ou quadros de rotina) e explicações simples, para que ela saiba quando e por quanto tempo poderá explorar o interesse.

7. Favoreça interações sociais por meio do interesse

O interesse pode ser um ponto de conexão com outras crianças e adultos. Estimule a criança a mostrar o que sabe, a ensinar colegas ou participar de grupos com o mesmo tema. Essa estratégia fortalece vínculos e promove habilidades sociais.

8. Observe quando o interesse se torna impeditivo

Se o interesse passa a interferir nas rotinas básicas (como sono, alimentação ou escola), ou gera comportamentos obsessivos e repetitivos que causam sofrimento, é hora de buscar apoio profissional. Psicólogos e terapeutas ocupacionais podem ajudar a encontrar equilíbrio.

9. Converse com a escola sobre o uso do interesse em sala de aula

Compartilhe com a equipe escolar o tema de interesse da criança e discuta como ele pode ser utilizado para favorecer a inclusão e o desenvolvimento pedagógico. Professores bem orientados podem criar atividades mais atrativas e respeitosas para a criança autista.

10. Valorize o conhecimento da criança como potencial

Muitas crianças autistas se tornam verdadeiras especialistas em seus temas de interesse. Valorize isso! Elogie, estimule e celebre o conhecimento dela, pois isso fortalece a autoestima e mostra que ela tem algo único a oferecer ao mundo.

Conclusão

Os interesses restritos são mais do que uma característica do autismo: são uma ferramenta poderosa de desenvolvimento, expressão e conexão. Quando lidamos com eles com empatia, criatividade e equilíbrio, abrimos portas para que a criança se sinta compreendida, valorizada e incluída.

No Portal do TEA, acreditamos que cada interesse é uma linguagem — e cabe a nós aprender a escutá-la e dialogar com ela.

Referências bibliográficas:

•American Psychiatric Association. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, 2013.

•Attwood, Tony. O Guia de Tony Attwood para Síndrome de Asperger.

•Koenig, K. et al. (2015). “Restricted Interests and Social Interaction in Children with Autism.” Journal of Autism and Developmental Disorders.

•Grandin, Temple. (2014). O Cérebro Autista. Editora Valentina.

•Baron-Cohen, Simon. (2020). The Pattern Seekers. Basic Books.

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