Ansiedade generalizada em autistas nível 1: entenda os tipos mais comuns

A ansiedade generalizada é uma comorbidade frequente em pessoas com autismo, especialmente no nível 1 de suporte. Neste post, entenda por que ela é tão comum, conheça os tipos mais relatados — como fobias sociais, ansiedade de separação e ansiedade antecipatória — e saiba como identificar os sinais.

A ansiedade generalizada no autismo é uma comorbidade amplamente reconhecida pela ciência, e sua ocorrência é significativamente mais alta entre pessoas autistas em comparação à população neurotípica. Entre autistas com nível 1 de suporte — muitas vezes diagnosticados tardiamente — os sintomas de ansiedade podem se manifestar de forma intensa, mas muitas vezes passam despercebidos ou são confundidos com traços da personalidade.

Além da ansiedade persistente, outros tipos específicos são frequentemente relatados, como fobias sociais, ansiedade de separação e ansiedade antecipatória. Entender essas manifestações é fundamental para promover apoio adequado e qualidade de vida para autistas de todas as idades.

Por que a ansiedade é tão comum em autistas nível 1?

Estudos apontam que entre 40% e 50% das pessoas autistas apresentam algum tipo de transtorno de ansiedade ao longo da vida, sendo a ansiedade generalizada uma das mais comuns (White et al., 2009; van Steensel et al., 2011). Essa prevalência tende a ser ainda maior em autistas com nível 1 de suporte, muitas vezes considerados “altamente funcionais”, justamente porque suas dificuldades são mais sutis e, portanto, frequentemente negligenciadas.

Diversos fatores explicam essa alta ocorrência:

  • Rigidez cognitiva: mudanças inesperadas e situações novas podem gerar alto nível de estresse.

  • Hipersensibilidade sensorial: ambientes barulhentos, cheiros fortes ou multidões podem ser gatilhos constantes.

  • Déficits na comunicação social: a dificuldade em interpretar sinais sociais e manter interações pode gerar insegurança constante.

  • Experiências traumáticas anteriores: como bullying ou rejeição social, bastante comuns em infâncias de autistas não diagnosticados.

Além disso, por terem um bom desempenho intelectual, muitos autistas nível 1 desenvolvem estratégias de camuflagem, mascarando seus sinais autistas — o que pode aumentar ainda mais a tensão interna e contribuir para quadros de ansiedade crônica.

Tipos mais comuns de ansiedade no autismo

1. Fobia social

A fobia social é um dos tipos mais relatados de ansiedade entre autistas. Trata-se de um medo intenso e persistente de situações sociais, como:

  • Falar em público;

  • Iniciar ou manter conversas;

  • Comer na frente de outras pessoas;

  • Ser observado.

Para autistas, especialmente os que mascaram comportamentos para se encaixar, essas situações podem ser altamente desgastantes. Segundo estudos, a sobreposição entre autismo e fobia social é tão significativa que muitos profissionais recomendam uma avaliação criteriosa para diferenciar os dois quadros (Bellini, 2006).

A evitação social, nesses casos, não está relacionada à falta de interesse, mas sim ao medo de julgamento, falhas na comunicação ou experiências anteriores negativas.

2. Ansiedade de separação

Mais comum na infância, a ansiedade de separação também pode persistir ou se manifestar de forma atípica na adolescência e na vida adulta. Entre autistas, esse tipo de ansiedade pode surgir não apenas com figuras de apego (pais, cuidadores, parceiros), mas também com rotinas, objetos ou espaços familiares.

Exemplos comuns incluem:

  • Crises ao mudar de cuidador ou terapeuta;

  • Dificuldade para dormir fora de casa;

  • Ansiedade extrema ao sair do ambiente doméstico.

Esse tipo de apego pode estar ligado à necessidade de previsibilidade, à dificuldade em lidar com mudanças e ao uso de vínculos afetivos como forma de regulação emocional.

3. Ansiedade antecipatória

A ansiedade antecipatória é a preocupação excessiva com eventos futuros, mesmo quando não há um motivo real para alarme. Em autistas, essa forma de ansiedade está fortemente associada à rigidez cognitiva e à necessidade de controle sobre o ambiente.

Alguns exemplos incluem:

  • Preocupações intensas dias antes de uma consulta médica;

  • Crises antes de viagens, mesmo que desejadas;

  • Medo de imprevistos em rotinas aparentemente simples.

Essa ansiedade pode se manifestar com sintomas físicos como dor de barriga, insônia, irritabilidade ou crises de choro. Estratégias como o uso de agendas visuais, ensaios sociais e previsibilidade são fundamentais para minimizar esse tipo de sofrimento.

Conclusão

A ansiedade generalizada no autismo é uma condição comum, mas nem sempre reconhecida com clareza — especialmente em autistas nível 1, que muitas vezes se adaptam de forma silenciosa, mas à custa de alto sofrimento interno. Fobias sociais, ansiedade de separação e ansiedade antecipatória são manifestações frequentes que impactam diretamente a qualidade de vida e o bem-estar emocional.

Compreender essas nuances é o primeiro passo para oferecer intervenções mais eficazes e individualizadas, que respeitem o perfil neurológico de cada autista.

Referências bibliográficas

  • American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5).

  • Bellini, S. (2006). The development of social anxiety in adolescents with autism spectrum disorders. Focus on Autism and Other Developmental Disabilities, 21(3), 138–145.

  • van Steensel, F. J. A., Bögels, S. M., & Perrin, S. (2011). Anxiety disorders in children and adolescents with autistic spectrum disorders: a meta-analysis. Clinical Child and Family Psychology Review, 14(3), 302–317.

  • White, S. W., Oswald, D., Ollendick, T., & Scahill, L. (2009). Anxiety in children and adolescents with autism spectrum disorders. Clinical Psychology Review, 29(3), 216–229.

  • Mazefsky, C. A., & Herrington, J. D. (2014). Emotion regulation and anxiety in autism spectrum disorder. In: Volkmar, F.R. (Ed.), Handbook of Autism and Pervasive Developmental Disorders.

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