Acompanhamento neurológico e opções de tratamento para autistas com epilepsia

O tratamento da epilepsia em autistas exige um olhar especializado, já que as crises podem afetar o desenvolvimento e a qualidade de vida. O acompanhamento com neurologista é fundamental para diagnóstico preciso, controle eficaz e escolha da melhor abordagem terapêutica, que pode incluir medicamentos, terapias complementares e mudanças no estilo de vida.

O tratamento da epilepsia em autistas deve ser conduzido com atenção individualizada, considerando as particularidades do funcionamento neurológico e comportamental de cada pessoa no espectro. O diagnóstico e o manejo adequado das crises epilépticas só são possíveis com o acompanhamento de um profissional especializado, como o neurologista. Além do uso de medicamentos anticonvulsivantes, existem diversas estratégias que podem contribuir para a estabilidade clínica e o bem-estar.

Neste post, você vai entender por que o acompanhamento neurológico é indispensável e quais são os principais tipos de tratamento para epilepsia em pessoas autistas.

A importância do acompanhamento com neurologista

O neurologista é o profissional capacitado para diagnosticar e tratar condições que afetam o sistema nervoso central, como a epilepsia. No caso de pessoas com autismo, esse acompanhamento é ainda mais necessário por diversas razões:

  • Alta prevalência de epilepsia entre pessoas com TEA (20–30%), especialmente nos níveis 2 e 3 de suporte.

  • Dificuldade de comunicação de sintomas, o que torna o diagnóstico clínico mais complexo.

  • Sobreposição entre comportamentos do autismo e sintomas de crises (por exemplo, ausências e estereotipias podem se confundir com crises focais).

  • Necessidade de monitoramento contínuo, já que as crises podem se modificar ao longo do tempo, especialmente em fases de crescimento, puberdade e envelhecimento.

Além disso, o neurologista atua em conjunto com uma equipe interdisciplinar — incluindo psiquiatras, neuropediatras, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos — para garantir um plano de cuidado mais completo.

Como é feito o diagnóstico da epilepsia em autistas?

O processo inclui:

  • Avaliação clínica detalhada, com histórico familiar, relato de episódios, características comportamentais e desenvolvimento.

  • Eletroencefalograma (EEG): detecta padrões elétricos cerebrais anormais associados a epilepsia.

  • Ressonância magnética (RM): pode ser solicitada para investigar causas estruturais.

  • Vídeo EEG: em casos complexos, ajuda a identificar crises durante o exame.

O diagnóstico pode ser desafiador, principalmente quando as crises são sutis. Por isso, manter um diário de episódios e observar comportamentos incomuns são atitudes essenciais para familiares e cuidadores.

Tratamentos para epilepsia em pessoas autistas

O tratamento da epilepsia no TEA deve ser individualizado, levando em consideração a frequência, o tipo de crise, os efeitos colaterais dos medicamentos e as características da pessoa. Abaixo, estão os principais tipos de tratamento utilizados atualmente.

1. Medicamentos anticonvulsivantes

São a base do tratamento e ajudam a controlar as crises na maioria dos casos. Alguns dos fármacos mais usados incluem:

  • Valproato de sódio

  • Carbamazepina

  • Lamotrigina

  • Levetiracetam

  • Topiramato

A escolha do medicamento depende do tipo de crise, idade, presença de outras condições e resposta individual. Em alguns casos, é necessário combinar dois ou mais medicamentos.

Atenção: alguns anticonvulsivantes podem impactar o humor, o sono e a atenção, o que exige acompanhamento regular para ajustar doses ou trocar a medicação.

2. Dieta cetogênica

A dieta cetogênica, rica em gorduras e pobre em carboidratos, pode ser indicada em casos de epilepsia de difícil controle, especialmente em crianças. Ela altera o metabolismo cerebral, reduzindo a frequência de crises.

Segundo a Epilepsy Foundation, essa abordagem pode ser eficaz, mas deve ser feita com supervisão médica e nutricional rigorosa.

3. Cirurgia para epilepsia refratária

Quando as crises não respondem aos medicamentos (epilepsia refratária), pode-se considerar a cirurgia para remover a área do cérebro onde se originam as crises. Essa opção é recomendada apenas em casos específicos, com exames de imagem e EEG que identifiquem com precisão a origem da atividade epiléptica.

4. Estimulação do nervo vago (VNS)

Trata-se de um dispositivo implantado cirurgicamente que envia impulsos elétricos ao nervo vago, ajudando a reduzir as crises. É utilizado quando há resistência aos medicamentos e impossibilidade de cirurgia convencional.

5. Terapias complementares

Embora não substituam o tratamento médico, algumas abordagens podem contribuir para o bem-estar geral:

  • Terapias sensoriais e ocupacionais: ajudam no manejo do estresse, que pode ser um gatilho para crises.

  • Atividades físicas regulares: melhoram o sono, o humor e a estabilidade neurofisiológica.

  • Técnicas de regulação emocional: úteis para reduzir ansiedade, que também pode desencadear episódios.

O papel da família e da escola

O acompanhamento neurológico deve ser integrado ao cotidiano da pessoa autista. A família e os profissionais da escola podem colaborar observando sinais de alerta, anotando possíveis gatilhos e ajudando na adesão ao tratamento.

Alguns cuidados práticos incluem:

  • Garantir a administração correta dos medicamentos, nos horários certos;

  • Informar a equipe escolar sobre o diagnóstico e como agir em caso de crise;

  • Estimular uma rotina regular, com sono adequado e alimentação saudável;

  • Evitar estímulos excessivos que possam sobrecarregar o sistema sensorial.

Conclusão

O tratamento da epilepsia em autistas vai além do controle de crises: ele promove qualidade de vida, segurança e maior autonomia. O acompanhamento com neurologista é indispensável, pois permite uma abordagem personalizada e em constante adaptação às necessidades da pessoa. Diagnóstico precoce, uso adequado de medicamentos, terapias complementares e suporte da família são os pilares para um manejo eficaz e humanizado.

Referências bibliográficas

  1. Tuchman, R., & Rapin, I. (2002). Epilepsy in autism. The Lancet Neurology, 1(6), 352–358. DOI:10.1016/S1474-4422(02)00160-0

  2. Epilepsy Foundation. Ketogenic Diet and Epilepsy. Atualizado em 2024. Disponível em: https://www.epilepsy.com

  3. Besag, F. M. (2018). Epilepsy in patients with autism: links, risks and treatment challenges. Neuropsychiatric Disease and Treatment, 14, 1–10. DOI:10.2147/NDT.S120438

  4. International League Against Epilepsy (ILAE). Treatment of Epilepsy. Atualizado em 2023. Disponível em: https://www.ilae.org

  5. Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil. Epilepsia e Autismo: abordagem clínica. Acesso em 2025. https://www.sbn.org.br

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