A alexitimia é a dificuldade em identificar, compreender e expressar emoções. Muito presente em pessoas autistas, ela pode impactar a comunicação, os relacionamentos e o bem-estar emocional. Entender essa característica é essencial para oferecer apoio adequado e promover o autoconhecimento.
A alexitimia (do grego a-lexis-thymos, ou “sem palavras para as emoções”) é uma condição caracterizada por dificuldade em identificar, compreender, descrever e expressar os próprios sentimentos. Embora não seja um transtorno mental isolado, ela pode estar associada a diversas condições de saúde mental — sendo especialmente comum entre pessoas dentro do espectro autista (TEA).
Segundo estudos, até 50% das pessoas autistas apresentam traços de alexitimia, enquanto na população geral essa taxa gira em torno de 10%. No autismo, a alexitimia não é uma característica obrigatória, mas pode afetar significativamente o modo como o indivíduo interage com o mundo, se comunica e interpreta suas próprias experiências emocionais【1】.
Características da alexitimia
A alexitimia pode se manifestar de formas variadas, mas há traços comuns frequentemente observados:
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Dificuldade em identificar emoções próprias (ex: não saber diferenciar tristeza de frustração)
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Dificuldade em descrever sentimentos com palavras
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Pobreza no vocabulário emocional
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Confusão entre estados emocionais e sensações físicas (ex: achar que está doente quando, na verdade, está ansioso)
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Pensamento mais voltado ao concreto e prático, com menor uso da imaginação
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Dificuldade em interpretar ou responder adequadamente às emoções dos outros
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Menor expressão facial e corporal emocional (não significa ausência de emoção)
É importante destacar que pessoas com alexitimia sentem emoções. A diferença está em como elas as processam e comunicam.
Alexitimia no autismo: uma sobreposição comum
A presença de alexitimia no autismo levanta uma pergunta importante: os desafios emocionais são do TEA ou da alexitimia?
Pesquisas recentes, como a de Bird e Cook (2013), indicam que muitas dificuldades emocionais atribuídas ao autismo — como empatia reduzida ou baixa expressividade — podem estar, na verdade, mais relacionadas à alexitimia do que ao TEA em si【2】.
Ou seja: nem toda pessoa autista tem alexitimia, e nem toda pessoa com alexitimia é autista.
Essa sobreposição exige atenção cuidadosa de profissionais de saúde, para que intervenções adequadas sejam oferecidas, especialmente em áreas como:
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Educação emocional
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Comunicação afetiva
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Terapias de regulação emocional
Como a alexitimia afeta a vida cotidiana
A alexitimia pode ter impacto em várias áreas:
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Relacionamentos: dificuldade em entender os sentimentos dos outros pode ser interpretada como frieza ou indiferença
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Saúde mental: maior risco de ansiedade, depressão e crises emocionais por falta de estratégias de regulação emocional
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Autoconhecimento: dificuldade em identificar limites, vontades e necessidades emocionais
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Tomada de decisões: sem compreender o que se sente, a tomada de decisão pode ser mais racional ou confusa
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Bem-estar físico: emoções não expressas podem se manifestar como dores, tensão muscular, insônia ou outros sintomas psicossomáticos
Como apoiar pessoas com alexitimia
Embora não exista “cura” para a alexitimia, há formas eficazes de apoio e desenvolvimento emocional, especialmente quando associada ao autismo. Algumas estratégias incluem:
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Psicoeducação: ensinar o vocabulário das emoções e suas manifestações físicas
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Terapias cognitivas ou focadas em emoção: como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ou Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)
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Mapas visuais de sentimentos: uso de cartelas, rodas das emoções ou aplicativos com apoio visual
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Mindfulness: práticas de atenção plena ajudam a perceber sensações e sentimentos no corpo
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Expressões alternativas: como arte, escrita, música e movimento
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Ambientes seguros e sem julgamento: a compreensão empática reduz a sobrecarga e favorece a abertura emocional
Atenção para diagnóstico diferencial
A alexitimia pode coexistir com outras condições, como depressão, transtorno de ansiedade, estresse pós-traumático e até neurodivergências não-autistas, como TDAH. Por isso, é fundamental que a avaliação seja feita por profissionais capacitados, com sensibilidade para a diversidade neurocognitiva.
Conclusão
Alexitimia no autismo não é falta de sentimento, e sim uma maneira diferente de viver e expressar as emoções. Compreender essa característica é um passo importante para promover relações mais respeitosas e para que a pessoa autista se reconheça com mais compaixão e autonomia emocional. O apoio certo pode transformar o silêncio emocional em um caminho de descoberta e expressão.
Referências bibliográficas
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Nemiah, J. C., Freyberger, H., & Sifneos, P. E. (1976). Alexithymia: A view of the psychosomatic process. Modern Trends in Psychosomatic Medicine.
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Bird, G., & Cook, R. (2013). Mixed emotions: the contribution of alexithymia to the emotional symptoms of autism. Translational Psychiatry.
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Berthoz, S., & Hill, E. L. (2005). The validity of alexithymia construct in autism spectrum disorder. Journal of Autism and Developmental Disorders.
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Morie, K. P., & DeRosse, P. (2017). Alexithymia and mental health: A review of neurobiological and psychological perspectives. Frontiers in Psychology.
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American Psychological Association (APA). https://www.apa.org
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Autistica UK. Alexithymia and Autism. https://www.autistica.org.uk


