Autocuidado no autismo infantil: como desenvolver autonomia desde cedo

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Crianças autistas podem apresentar dificuldades em atividades de autocuidado, como higiene, alimentação e vestuário. Este post explica como essas dificuldades se manifestam, o papel da terapia ocupacional no desenvolvimento da autonomia, e estratégias práticas, como rotinas visuais, para apoiar esse processo com respeito e eficácia.

O autocuidado é uma habilidade fundamental para a independência e qualidade de vida de qualquer criança. No caso de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), as atividades de vida diária (AVDs) como escovar os dentes, se vestir ou comer sozinhas podem ser desafiadoras. Isso se deve a uma combinação de fatores, como dificuldades sensoriais, atraso nas habilidades motoras finas e grossas, rigidez cognitiva e falta de compreensão social.

Essas dificuldades não são sinal de incapacidade, mas sim um convite ao olhar atento e à intervenção individualizada. A boa notícia é que, com estratégias adequadas, é possível promover avanços significativos na autonomia da criança, respeitando seu ritmo e suas particularidades.

Como as dificuldades de autocuidado se manifestam

As manifestações variam conforme o grau de suporte necessário, mas alguns sinais comuns incluem:

Higiene: resistência a banhos, escovação dos dentes ou corte de unhas devido à hipersensibilidade tátil ou auditiva.

Alimentação: seletividade alimentar, dificuldade em usar talheres ou seguir uma rotina alimentar.

Vestuário: recusa em usar certas roupas por desconforto sensorial, dificuldade para abotoar, fechar zíperes ou se vestir na ordem correta.

Esses desafios impactam diretamente a rotina familiar e a autoestima da criança, especialmente conforme ela cresce e deseja mais independência.

O papel da terapia ocupacional

A terapia ocupacional (TO) é uma das abordagens mais eficazes no desenvolvimento da autonomia em crianças com TEA. O terapeuta ocupacional realiza uma avaliação global da criança, identificando suas dificuldades e potencialidades nas AVDs. A partir disso, elabora um plano de intervenção que pode incluir:

•Treinamento gradual de tarefas (encadeamento).

•Integração sensorial.

•Adaptações no ambiente.

•Uso de recursos visuais.

Além disso, a TO trabalha em conjunto com a família e a escola para que as estratégias sejam aplicadas de forma consistente em diferentes contextos.

Estratégias visuais e rotina: aliados poderosos

Crianças autistas tendem a se beneficiar muito de recursos visuais. Eles tornam o ambiente mais previsível, reduzem a ansiedade e ajudam a compreender etapas de ações complexas. Algumas ferramentas úteis incluem:

Quadros de rotina: com imagens ou fotos reais das tarefas em sequência.

Histórias sociais: para ensinar o porquê e como realizar determinada atividade.

Modelagem e reforço positivo: mostrar como fazer e celebrar os avanços.

Roupas adaptadas: sem zíperes, com velcro, etiquetas cortadas — mais conforto e autonomia.

Além disso, é essencial manter uma rotina estruturada, com horários definidos e repetição constante, o que facilita a assimilação dos hábitos de autocuidado.

Como os cuidadores podem ajudar

•Seja paciente e celebre pequenos progressos.

•Dê tempo para a criança completar a tarefa sozinha antes de intervir.

•Crie um ambiente calmo, organizado e sem estímulos excessivos.

•Ajuste as expectativas à realidade da criança e evite comparações.

•Envolva a criança nas decisões, sempre que possível.

Conclusão

Promover o autocuidado em crianças autistas é um processo que exige tempo, adaptação e acolhimento. Com o suporte da terapia ocupacional, o uso de estratégias visuais e a construção de uma rotina respeitosa e previsível, é possível desenvolver a autonomia sem pressão, reforçando a autoestima e preparando a criança para os desafios da vida cotidiana. Cada conquista, por menor que pareça, é um grande passo rumo à independência.

Referências bibliográficas

•Ayres, A. J. (2005). Sensory Integration and the Child. Western Psychological Services.

•Dunn, W. (2001). The Sensory Profile Manual. Psychological Corporation.

•Cypel, S. (2017). Transtorno do Espectro Autista: guia prático. Manole.

•Organização Mundial da Saúde (OMS). (2021). Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF.

•Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). (2022). Diretrizes para o manejo do autismo.

•Occupational Therapy Australia (2020). Supporting independence in daily activities for children with autism.

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