ARTIGOS

Emanoele Freitas

Neurocientista, Psicanalista, Psicoterapeuta do Comportamento. Fundadora da AAPA (Associação de Apoio a Pessoa Autista). Autora dos livros “Mediador Escolar. Recriando a arte de ensinar” e “Transtornos do Neurodesenvolvimento e Transtorno opositivo desafiador”, publicados pela WAK Editora.

Capacitação Continuada dos Profissionais de Educação sobre o TEA

Neste artigo, a Dra. Emanoele Freitas analisa o Projeto de Lei 3220/2024, que propõe capacitação continuada sobre o TEA para profissionais da educação. Ela resgata leis já existentes desde 1996 e questiona: o que falta é legislação ou aplicação? Uma reflexão necessária sobre o verdadeiro sentido da inclusão e a urgência de fazer cumprir os direitos já garantidos.

No dia 26 de março uma novidade chegou para todos que buscam a inclusão e a preparação dos profissionais da área de educação, circulou por todos os meios de comunicação e redes sociais a nova lei que determina que haja capacitação continuada dos profissionais da educação sobre o transtorno do espectro autista. A votação foi feita e agora o PL3220/2024 segue para promulgação. E nesse artigo trago uma chamada à reflexão diante de tudo o que buscamos para nossas crianças, jovens e adultos PCD e com necessidade educacional especial, uma breve explanação da linha do tempo jurídica das leis brasileira e que com essa reflexão possamos pensar o que realmente buscamos diante da inclusão em nosso país e como ela tem sido praticada.

Sim, estamos avançando, mas será que isso é novidade mesmo? Será que ainda não tínhamos algo relacionado à capacitação continuada dos profissionais? Sim, temos, e creio que seja de suma importância falar a respeito, pois evidencia que as leis existem, não são cumpridas e que muitas das vezes são necessários novos documentos e novas abordagens para se fazer valer os direitos dos PCDs.

A lei brasileira estabelece diversas normas que obrigam a formação continuada dos profissionais da educação, sendo as principais e que creio que a grande maioria conheça ou pelo menos já ouviram falar;

Lei de diretrizes e bases da educação nacional LDB Lei nº 9.394/1996 – artigo 59, inciso III (resumo – formação inicial e continuada)
Lei Brasileira de inclusão da pessoa com deficiência Lei nº 13.146/2015 – artigo 28, inciso X. (resumo – inclusão de práticas pedagógicas inclusivas).
Decreto nº 7.611/2011 – (resumo – Formação específica para o atendimento educacional especializado AEE).
Plano Nacional de Educação PNE Lei nº 10.172/2001 – Meta 35. (resumo – atualização constante e articulação com avanços científicos).
Lei nº 4.317/2009 – artigo 50, inciso IV. (resumo – formação continuada em educação especial).

 

Essas são as leis máximas do nosso país que, desde 1996, já se falava em capacitação continuada dos profissionais da educação, mas, constantemente, precisamos fazer novos documentos para, a meu ver, lembrar de um direito já assegurado, mas não aplicado na educação da pessoa com deficiência e necessidade educacional especial, e para com os profissionais que atuam na área e que precisam se reciclar diante das diversidades e desafios que a profissão traz.

Todas as leis abordam o mesmo sistema, pois capacitação continuada está relacionada à educação inclusiva, e é um processo permanente na formação do profissional (e isso é para qualquer profissão pessoal, nunca paramos de estudar e aprender) e são para todos os profissionais que atuam com a educação inclusiva, professor, mediador, orientador pedagógico, tio da cantina, porteiro e todos que estão numa instituição de ensino que propaga e vive a inclusão.

Ok, podem falar, mas essa lei assegura a capacitação continuada para o atendimento educacional para a pessoa com TEA. Sim, concordo, mas a inclusão não é para todos? O estatuto do deficiente não é nossa lei maior rumo ao tão esperado respeito à diversidade?  

Não estou diminuindo ou desmerecendo a iniciativa, só buscando uma reflexão diante do que é realmente inclusão e leis em nosso país. Será que todos que vivem a realidade de PCDs sabem dessas leis? Será que precisaríamos de mais uma, e de forma específica, para que nossos filhos e profissionais tivessem seus direitos assegurados?

Continuo acreditando que, cada vez mais profissionais conheceram seus direitos. Continuo acreditando que mais escolas irão cumprir com seus deveres como instituição de ensino, seguindo o que diz nossas leis. Continuo acreditando que o conhecimento traz mudança e novos horizontes. Então que possamos propagar e fazer se cumprir nossas leis.

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