Comorbidades são condições clínicas que coexistem com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Neste post, explicamos o que significa ter comorbidades, por que elas são comuns em pessoas autistas e como reconhecer sua importância no contexto do TEA.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição complexa do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, o comportamento e a interação social. Além dessas características, muitas pessoas com TEA apresentam outras condições de saúde associadas, conhecidas como comorbidades. Esses diagnósticos adicionais podem incluir transtornos psiquiátricos, neurológicos, sensoriais, alimentares, entre outros.
Identificar e compreender as comorbidades no autismo é essencial para um acompanhamento mais eficaz, pois elas influenciam diretamente no diagnóstico, nas intervenções terapêuticas e na qualidade de vida da pessoa autista.
O que são comorbidades?
O termo comorbidade refere-se à presença simultânea de duas ou mais condições clínicas em um mesmo indivíduo. No caso do autismo, isso significa que, além do diagnóstico de TEA, a pessoa também pode ter outros transtornos ou condições médicas, como TDAH, ansiedade, epilepsia, transtornos do sono, entre outros.
As comorbidades não são características obrigatórias do TEA, mas ocorrem com uma frequência muito elevada. Isso torna essencial que a equipe multidisciplinar esteja atenta a outros sintomas que possam indicar diagnósticos adicionais além do autismo.
Por que comorbidades são comuns no autismo?
Pesquisas indicam que mais de 70% das pessoas com TEA apresentam pelo menos uma comorbidade, e cerca de 40% têm duas ou mais. Mas por que isso acontece?
Algumas hipóteses mais aceitas pela ciência incluem:
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Fatores genéticos compartilhados: Algumas alterações genéticas relacionadas ao autismo também estão presentes em outras condições, como TDAH ou epilepsia.
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Sobreposição de sintomas: Transtornos como ansiedade e depressão podem apresentar sinais similares aos do TEA, e muitas vezes coexistem.
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Neurodesenvolvimento atípico: O cérebro autista pode apresentar padrões distintos de desenvolvimento e funcionamento, que predispõem o surgimento de outras condições.
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Barreiras sensoriais e de comunicação: Dificuldades típicas do autismo podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos secundários, como distúrbios alimentares ou de sono.
Quais são as comorbidades mais comuns no autismo?
Entre as comorbidades mais frequentemente observadas em pessoas autistas, destacam-se:
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Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
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Ansiedade generalizada e fobias
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Depressão
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Transtornos do sono
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Epilepsia
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Transtornos alimentares (como seletividade ou recusa alimentar)
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Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
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Transtornos de aprendizagem
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Transtornos do processamento sensorial
Importante destacar que o diagnóstico de uma comorbidade não exclui o autismo e vice-versa. Ao contrário, reconhecê-las favorece um plano de cuidado mais personalizado.
Como saber se há uma comorbidade associada ao TEA?
É comum que os sinais de comorbidades sejam confundidos com características do próprio autismo. Por isso, a avaliação precisa ser feita por uma equipe multidisciplinar experiente. Alguns sinais de alerta incluem:
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Mudança súbita no comportamento
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Regressão em habilidades já adquiridas
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Irritabilidade extrema ou crises frequentes
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Aumento de comportamentos autolesivos
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Problemas de sono que impactam o cotidiano
Muitas vezes, os próprios pais ou cuidadores são os primeiros a perceber que “algo mudou” no padrão da criança ou adulto autista.
Conclusão
As comorbidades no autismo são mais comuns do que se imagina e fazem parte da realidade de muitas pessoas dentro do espectro. Compreender que o TEA pode vir acompanhado de outras condições permite um olhar mais amplo, empático e clínico sobre o indivíduo, promovendo um acompanhamento mais eficaz e uma melhora significativa na qualidade de vida. No próximo post, falaremos sobre como essas comorbidades impactam diretamente o diagnóstico, as terapias e o bem-estar do autista.
Referências Bibliográficas
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Hyman, S. L., Levy, S. E., & Myers, S. M. (2020). Identification, Evaluation, and Management of Children With Autism Spectrum Disorder. Pediatrics.