Comportamentos desafiadores no autismo: compreendendo além da aparência

Imagem de Vanesssa por Pixabay

Agressividade, gritos ou birras intensas em pessoas autistas nem sempre são “mau comportamento”. Esses sinais muitas vezes indicam sobrecarga sensorial, frustração ou dificuldade de comunicação. Entender o que está por trás desses comportamentos é essencial para oferecer apoio com empatia e eficácia.

Quando falamos em autismo, um dos pontos que mais gera dúvida — e, muitas vezes, julgamento — são os chamados “comportamentos desafiadores”. Explosões de raiva, agressividade, birras intensas ou comportamentos que fogem do esperado socialmente são frequentemente mal interpretados. No entanto, esses comportamentos podem representar muito mais do que um simples descontrole. Eles são, na maioria das vezes, respostas a contextos de estresse, frustração, sobrecarga sensorial ou dificuldades de comunicação.

É fundamental compreender que esses comportamentos são parte da manifestação do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e não ações voluntárias ou intencionais. Neste post, vamos entender o que pode estar por trás deles, como agir de forma respeitosa e construtiva, e de que forma a regulação emocional pode transformar essas situações.

O que são comportamentos desafiadores?

No contexto do TEA, comportamentos desafiadores são reações intensas que causam impacto no ambiente ou nas relações sociais. Eles podem incluir:

•Agressividade (verbal ou física)

•Gritos ou choros intensos

•Birras prolongadas

•Autoagressão

•Comportamentos de fuga (como correr para longe)

•Recusa persistente em realizar atividades cotidianas

Essas manifestações não ocorrem “sem motivo”. Elas são formas de expressão quando faltam recursos para lidar com o que está sendo vivido internamente.

O que pode estar por trás desses comportamentos?

1. Sobrecarga sensorial:

Ambientes com muitos estímulos (luzes fortes, barulhos, cheiros) podem causar desconforto intenso em pessoas com sensibilidade sensorial, desencadeando reações como gritos ou agressividade.

2. Frustração por falta de compreensão:

Quando uma pessoa autista não é compreendida ou não consegue expressar o que sente ou quer, pode reagir com comportamentos desafiadores.

3. Mudanças inesperadas na rotina:

A quebra de previsibilidade pode causar grande ansiedade, resultando em resistência ou crises.

4. Fadiga mental ou física:

Depois de muito esforço para se adequar ao ambiente social, mesmo o menor estímulo pode ser o gatilho para uma crise.

5. Comunicação limitada:

Para quem não se comunica verbalmente ou tem dificuldade em expressar emoções, o corpo pode “falar” através de comportamentos intensos.

Como agir sem punir?

1. Identifique o gatilho:

Observe o que antecede o comportamento para entender qual estímulo ou situação pode estar provocando a crise.

2. Ofereça um ambiente acolhedor:

Evite tons de voz altos, toque sem aviso ou posturas ameaçadoras.

3. Use a escuta ativa e empática:

Mostre que você está disponível para entender o que a pessoa precisa, mesmo que ela não consiga expressar verbalmente.

4. Evite punições:

Repreender ou punir pode aumentar o estresse e prejudicar o vínculo. Prefira estratégias de prevenção e redirecionamento.

5. Incentive formas alternativas de comunicação:

O uso de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) pode ser muito útil para reduzir frustrações.

A importância da regulação emocional

Ensinar e apoiar a regulação emocional é uma das estratégias mais eficazes no manejo de comportamentos desafiadores. Isso pode ser feito por meio de:

•Estratégias visuais (cartões de emoções, semáforos do humor)

•Técnicas de respiração e mindfulness adaptadas

•Apoio de terapeutas ocupacionais, psicólogos e fonoaudiólogos

•Criação de rotinas previsíveis e espaços seguros

Lembre-se: regulação emocional não se ensina com broncas. Ela se desenvolve com acolhimento, paciência e estratégias consistentes.

Conclusão

Comportamentos desafiadores no autismo não devem ser vistos como birra ou falta de limites, mas como um pedido de ajuda. A empatia, o conhecimento e a intervenção baseada no respeito às necessidades sensoriais e emocionais da pessoa autista são caminhos fundamentais para construir relações mais saudáveis e ambientes verdadeiramente inclusivos.

Referências bibliográficas:

•Organização Mundial da Saúde. (2023). Diretrizes para apoio a pessoas com deficiência intelectual e autismo

•American Psychiatric Association. (2013). DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

•Attwood, T. (2015). O guia completo do autismo de Asperger

•Silva, M. C. (2021). Comportamento no Autismo: uma abordagem funcional

•Portal Autismo & Realidade – www.autismorealidade.org

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