Dicas para identificar e lidar com o shutdown em crianças autistas

Foto de Annie Spratt na Unsplash

O shutdown é uma resposta intensa à sobrecarga sensorial ou emocional, comum em crianças autistas. Diferente do meltdown, ele envolve retraimento e silêncio. Aprenda como reconhecer os sinais de shutdown e oferecer suporte de forma acolhedora e eficaz.

Crianças autistas podem reagir a situações estressantes de maneiras diversas. Enquanto os meltdowns são reações mais visíveis e explosivas, o shutdown é uma resposta mais silenciosa e introspectiva, muitas vezes mal compreendida. Reconhecer e compreender esse tipo de crise é essencial para que pais, cuidadores e educadores possam oferecer o suporte adequado, promovendo segurança emocional e respeito às necessidades da criança.

O que é o shutdown?

O shutdown é uma resposta neurológica à sobrecarga sensorial, emocional ou cognitiva. Diferente do meltdown — que envolve gritos, choros ou comportamentos intensos — o shutdown leva a criança a se desligar do ambiente, ficando quieta, imóvel ou apática.

Esse comportamento não é uma escolha voluntária, mas uma forma de proteção do cérebro diante de estímulos excessivos. Em crianças autistas, pode surgir após eventos estressantes, mudanças inesperadas, ambientes muito barulhentos ou demandas sociais elevadas.

Sinais de que uma criança está em shutdown

Alguns sinais comuns incluem:

•Silêncio súbito ou recusa em falar

•Imobilidade ou rigidez corporal

•Evitar contato visual ou se esconder

•Ignorar estímulos ao redor (parecer “desligada”)

•Deitar-se no chão ou em posição fetal

•Responder com atraso ou não responder a perguntas

Diferenças entre shutdown e meltdown

Características

Shutdown

Meltdown

Reação

Interna, silenciosa

Externa, explosiva

Comportamento

Retraimento, apatia

Gritos, choro, agitação

Resposta a estímulo

Redução de resposta

Aumento de reações

Intervenção ideal

Espaço tranquilo e acolhimento

Segurança e contenção emocional

O que fazer durante um shutdown

1.Não pressione por respostas: Evite perguntas ou comandos imediatos. A criança está sobrecarregada e precisa de tempo.

2.Ofereça um espaço seguro: Se possível, leve a criança para um local silencioso e com baixa estimulação sensorial.

3.Mantenha a presença calma: Sente-se por perto, sem forçar interação. Apenas estar ali já transmite segurança.

4.Utilize sinais visuais: Se a criança usa Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), como pranchas ou figuras, incentive sua utilização.

5.Evite toques não solicitados: A não ser que a criança já tenha demonstrado conforto com o toque, evite contato físico.

6.Espere o tempo dela: Não há um tempo fixo para a criança sair do shutdown. Permita que ela retome o ritmo natural.

7.Valide o que ela sente: Depois que a crise passar, fale com empatia: “Você ficou muito sobrecarregada, né? Está tudo bem.”

8.Acompanhe com profissionais: Shutdowns frequentes devem ser avaliados por psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos.

Como prevenir novos episódios

Antecipação visual: Use quadros de rotina e imagens para preparar a criança para mudanças.

Rotina previsível: Ajuda a reduzir a ansiedade e evitar situações de sobrecarga.

Pausas sensoriais: Permitir momentos de descanso ao longo do dia, com atividades que a criança gosta (como fones com cancelamento de ruído ou brinquedos sensoriais).

Observação contínua: Aprender os gatilhos específicos da criança ajuda a intervir antes que a crise se instale.

Educação emocional: Trabalhar com a criança a identificação de sentimentos e construção de estratégias de autorregulação.

Conclusão

Compreender o shutdown é fundamental para garantir que a criança autista seja acolhida com respeito e empatia. Esses episódios não são birras ou desobediência, mas formas de o cérebro lidar com situações intensas. Com estratégias adequadas, é possível reduzir a frequência das crises e fortalecer o bem-estar emocional da criança.

Referências Bibliográficas:

•Attwood, T. (2008). The Complete Guide to Asperger’s Syndrome. Jessica Kingsley Publishers.

•Grandin, T., & Panek, R. (2013). O cérebro autista: Pensando através do espectro. Companhia das Letras.

•American Psychiatric Association. (2013). DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

•Organização Mundial da Saúde (OMS). (2022). Classificação Internacional de Doenças – CID-11.

•Silva, A. G. da, & Carmo, D. de (2021). Shutdown e sobrecarga sensorial: revisão narrativa. Revista Psicologia e Saúde.

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