A dieta sem glúten e sem caseína (SGSC) é uma abordagem alimentar que tem ganhado espaço entre famílias de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Este post explica o que é a SGSC, por que ela pode ser indicada, os possíveis benefícios para autistas, além dos cuidados necessários para sua adoção de forma segura e eficaz.
Nos últimos anos, muitos pais e profissionais da saúde têm explorado alternativas complementares para melhorar a qualidade de vida de pessoas com TEA. Entre essas abordagens, a dieta sem glúten (proteína do trigo) e sem caseína (proteína do leite) tem chamado atenção devido a relatos de melhora em comportamentos, sono, digestão e até mesmo comunicação em algumas crianças autistas.
Mas afinal, por que essa dieta funciona para algumas pessoas e não para outras? Existe comprovação científica? Como iniciar essa mudança alimentar sem causar prejuízos nutricionais? A seguir, abordamos essas e outras questões com base em fontes confiáveis e atualizadas.
O que é a dieta SGSC?
A dieta SGSC consiste na exclusão total de dois grupos de proteínas:
- Glúten: presente no trigo, cevada, centeio e derivados;
- Caseína: presente no leite de vaca e seus derivados (queijos, iogurtes, manteiga).
O objetivo é eliminar essas substâncias que, em algumas pessoas com TEA, podem não ser bem digeridas e causar reações inflamatórias ou afetar o funcionamento neurológico por meio do chamado “eixo intestino-cérebro”.
Por que a SGSC pode ser indicada para autistas?
Diversos estudos indicam que pessoas com autismo podem apresentar maior prevalência de distúrbios gastrointestinais, disbiose intestinal e hipersensibilidade alimentar. Em muitos casos, o intestino dessas pessoas é mais permeável (síndrome do intestino permeável), o que facilita a entrada de peptídeos mal digeridos de glúten e caseína na corrente sanguínea. Esses peptídeos, por sua vez, podem agir no cérebro de forma semelhante a opiáceos, interferindo em comportamento, cognição e regulação emocional.
Principais benefícios relatados
Embora os resultados sejam variáveis, muitos pais e profissionais relatam melhorias significativas após a adoção da SGSC, especialmente quando combinada com outras intervenções terapêuticas. Entre os benefícios mais relatados estão:
- Redução de comportamentos repetitivos e crises de irritabilidade;
- Melhora na atenção e no contato visual;
- Redução de episódios de diarreia ou constipação;
- Aumento da disposição e melhora do sono;
- Melhora na comunicação verbal e não verbal.
É importante ressaltar que não há consenso científico absoluto sobre a eficácia da dieta para todos os autistas, mas os relatos positivos e estudos preliminares justificam a tentativa, desde que bem orientada.
Cuidados e acompanhamento profissional
A retirada do glúten e da caseína da alimentação exige atenção nutricional para evitar deficiências importantes, especialmente de cálcio, ferro, zinco, vitaminas do complexo B e fibras.
Além disso, é essencial considerar casos de seletividade alimentar, bastante comuns entre autistas. Como o glúten e a caseína estão presentes em uma ampla variedade de alimentos consumidos regularmente (como pães, massas, leite, iogurtes e queijos), sua exclusão pode representar um grande desafio para crianças com dieta restrita. Nesses casos, a intervenção deve ser ainda mais cuidadosa, com suporte nutricional individualizado e estratégias de introdução alimentar gradual.
O que fazer antes de iniciar a dieta SGSC:
- Procurar um nutricionista especializado em TEA;
- Fazer exames laboratoriais para avaliar o estado nutricional;
- Estabelecer um plano alimentar individualizado;
- Monitorar os efeitos da dieta com registros comportamentais e clínicos.
Dicas práticas para o dia a dia:
- Substituir pães, bolos e massas tradicionais por versões sem glúten;
- Utilizar leites vegetais fortificados (como leite de arroz, amêndoas, coco);
- Ler atentamente os rótulos de produtos industrializados (muitos contêm traços de glúten e caseína);
- Cozinhar mais em casa para ter controle sobre os ingredientes.
Como saber se a dieta está funcionando?
O ideal é manter a dieta de forma rigorosa por pelo menos 3 a 6 meses e observar mudanças no comportamento, sono, humor e digestão da criança. O acompanhamento deve ser feito com profissionais da saúde, como nutricionistas, médicos e terapeutas, para avaliar o impacto da intervenção e fazer ajustes necessários.
Conclusão
A dieta sem glúten e sem caseína pode ser uma ferramenta complementar valiosa para algumas pessoas com autismo. Embora não substitua terapias comportamentais e educacionais, ela pode promover ganhos importantes no bem-estar físico e emocional. Com o acompanhamento profissional adequado, a SGSC pode ser implementada com segurança e contribuir significativamente para o desenvolvimento global da criança autista.
Referências Bibliográficas
- BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes de atenção à pessoa com Transtorno do Espectro Autista. 2023.
- GOSTNER, J. M. et al. The impact of gluten and casein on behavior and cognition in children with autism spectrum disorders: a review. Nutritional Neuroscience, 2020.
- WHITELEY, P. et al. A gluten-free diet as an intervention for autism and associated spectrum disorders: preliminary findings. Autism, 1999.
- NAVIA, B. et al. Therapeutic diets in autism spectrum disorder: Current evidence. Revista de Neurología, 2022.