Epilepsia em Autistas: Quais os sinais e por que ocorre com mais frequência?

A epilepsia está presente em cerca de 20 a 30% das pessoas com autismo, especialmente entre aquelas com maior necessidade de suporte. Conhecer os sinais de alerta e os tipos de crises é essencial para o diagnóstico precoce e o manejo adequado. Entenda como identificar e agir diante dessa comorbidade tão comum no TEA.

Introdução

A epilepsia em autistas é uma condição clínica frequente e, muitas vezes, desafiadora. Estudos apontam que entre 20% e 30% das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) convivem também com crises epilépticas, sendo mais prevalente nos casos classificados como nível 3 de suporte (TEA severo). Por isso, entender os sinais de alerta e os diferentes tipos de crises epilépticas pode fazer toda a diferença no cuidado e na qualidade de vida dessas pessoas.

Por que a epilepsia é mais comum em pessoas autistas?

A relação entre autismo e epilepsia ainda é objeto de intensas pesquisas, mas há algumas explicações plausíveis apontadas por neurologistas e pesquisadores:

  • Anormalidades na atividade cerebral: ambas as condições envolvem alterações no funcionamento dos neurônios, que podem causar padrões anormais de conectividade.

  • Condições genéticas associadas: síndromes como Rett, Angelman e esclerose tuberosa estão associadas tanto ao TEA quanto à epilepsia.

  • Desenvolvimento cerebral atípico: alterações estruturais e funcionais precoces no cérebro aumentam a susceptibilidade a crises convulsivas.

Segundo a American Epilepsy Society (2023), a prevalência de epilepsia em autistas com deficiência intelectual é ainda maior, reforçando a importância do acompanhamento neurológico desde cedo, especialmente nos casos com atraso no desenvolvimento global.

Sinais de alerta para crises epilépticas

A identificação precoce dos sinais de epilepsia é essencial, especialmente em pessoas autistas não verbais ou com dificuldade de relatar sintomas subjetivos. Nem toda crise é do tipo convulsiva — algumas manifestações podem passar despercebidas.

Sinais de alerta comuns incluem:

  • Olhar fixo ou “perdido” por alguns segundos, com interrupção repentina de atividades;

  • Movimentos repetitivos involuntários (como piscar rápido, mastigar ou mexer os dedos);

  • Quedas repentinas sem causa aparente;

  • Rigidez muscular súbita ou espasmos;

  • Desorientação após episódios breves de “apagão”;

  • Perda de consciência com ou sem convulsão;

  • Comportamento estranho ou fora do padrão, especialmente com episódios que se repetem.

Esses sinais podem ser confundidos com comportamentos típicos do TEA, como estereotipias motoras ou ausência de resposta ao chamado. Por isso, a observação cuidadosa e a avaliação clínica especializada são fundamentais.

Tipos de crises epilépticas mais comuns no TEA

A classificação das crises epilépticas segue critérios neurológicos definidos pela International League Against Epilepsy (ILAE). No contexto do autismo, os tipos mais observados são:

1. Crises de ausência

  • Ocorrem mais frequentemente na infância.

  • A pessoa “desliga” por alguns segundos, com olhar fixo, sem queda.

  • Pode passar despercebida se não houver atenção.

2. Crises tônico-clônicas generalizadas

  • São as mais conhecidas.

  • Envolvem perda de consciência, rigidez muscular, convulsões e queda.

  • Podem ser assustadoras, exigem primeiros socorros imediatos.

3. Crises focais (parciais)

  • Começam em uma área específica do cérebro.

  • Podem causar movimentos involuntários em um lado do corpo, alterações de consciência ou comportamentos repetitivos.

  • Muitas vezes são mal interpretadas como comportamentos incomuns do autismo.

4. Espasmos infantis (síndrome de West)

  • Crises breves, geralmente com movimentos de flexão do tronco e dos braços.

  • Ocorrem no primeiro ano de vida.

  • Associadas a atraso no desenvolvimento e alto risco de epilepsia persistente.

A importância de observar e registrar

Manter um registro das crises observadas — frequência, duração, tipo de movimento, estado de consciência, gatilhos e recuperação — ajuda o neurologista a definir o diagnóstico e o tratamento mais eficaz. Ferramentas como diários de crises e vídeos (com consentimento e segurança) podem ser grandes aliados.

Conclusão

A epilepsia é uma comorbidade frequente no autismo e, quando não identificada e tratada, pode impactar profundamente o desenvolvimento e o bem-estar da pessoa autista. Observar os sinais de alerta e conhecer os tipos de crises é o primeiro passo para garantir um acompanhamento neurológico eficaz.

Referências bibliográficas

  • American Epilepsy Society. Autism and Epilepsy: Understanding the Link. 2023. Disponível em: https://www.aesnet.org

  • Tuchman, R., & Rapin, I. (2002). Epilepsy in autism. The Lancet Neurology, 1(6), 352–358. DOI:10.1016/S1474-4422(02)00160-0

  • Besag, F. M. (2018). Epilepsy in patients with autism: links, risks and treatment challenges. Neuropsychiatric Disease and Treatment, 14, 1–10. DOI:10.2147/NDT.S120438

  • International League Against Epilepsy (ILAE). Classification of the Epilepsies. Atualizado em 2022. https://www.ilae.org

  • Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Epilepsia e desenvolvimento infantil. https://portal.fiocruz.br

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