Linguagem Funcional: O Caminho para uma Comunicação Eficaz em Crianças com TEA

A linguagem funcional promove a comunicação eficaz em crianças com TEA, permitindo que elas se expressem por gestos, símbolos ou fala. Com ferramentas como pranchas de comunicação e PECS, é possível melhorar a interação social e a autonomia. A prática constante e adaptada garante um desenvolvimento sustentável.

A linguagem funcional é uma ferramenta essencial para promover a comunicação eficaz em crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista). Diferente do foco exclusivo na fala, ela engloba gestos, expressões, símbolos e outros recursos que permitem à criança transmitir suas necessidades, emoções e desejos de forma compreensível. Entender e aplicar essa abordagem nos ambientes familiares, escolares e sociais pode ser o primeiro passo para um desenvolvimento comunicativo mais completo e inclusivo.

Diferença entre fala, comunicação e linguagem

Esses três conceitos estão relacionados, mas têm funções distintas no desenvolvimento infantil, especialmente em crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista).

1. Fala:

É o ato motor de produzir sons, palavras e frases usando lábios, língua e outros órgãos. Crianças com TEA podem ter dificuldades, como apraxia da fala, mas isso não significa que não possam se comunicar por gestos, escrita ou tecnologia.

2. Comunicação:

Envolve a troca de informações usando fala, gestos, expressões faciais e outros sinais não-verbais. Algumas crianças podem falar bem, mas ainda assim ter dificuldades em fazer sentido durante interações, como ocorre na ecolalia. Métodos como pranchas de figuras (PECS) ou aplicativos ajudam na comunicação alternativa.

3. Linguagem:

É o sistema usado para estruturar a comunicação. Inclui habilidades:

  • Fonológicas: Diferenciar sons.
  • Semânticas: Entender significados.
  • Sintáticas: Formar frases corretas.
  • Pragmáticas: Ajustar o discurso ao contexto social.

Crianças com TEA podem ter linguagem expressiva (falar) ou receptiva (compreender) afetada, mas ainda se comunicam de forma adaptada.

Por que a linguagem funcional é importante para os autistas?

A linguagem funcional é essencial para o desenvolvimento e bem-estar de pessoas autistas, pois permite a comunicação clara, seja por fala, gestos ou métodos alternativos. Quando a criança não consegue se expressar, pode enfrentar desregulação emocional e comportamentos desafiadores, mas o uso de estratégias como pranchas de figuras e comunicação não-verbal ajuda a reduzir frustrações e melhorar as interações sociais. Com a exploração de múltiplas formas de comunicação, amplia-se o aprendizado, promovendo a inclusão, autonomia e uma melhor qualidade de vida.

Como aplicar a linguagem funcional nas crianças com TEA

Para desenvolver a linguagem funcional em crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista), é essencial começar pelo entendimento de que a comunicação pode ocorrer de diferentes formas, não apenas pela fala. A intenção comunicativa, ou seja, o desejo de se comunicar, é o ponto de partida. Isso pode ser estimulado através de estratégias de imitação, criação de situações comunicativas e o uso de ferramentas específicas que facilitam esse processo.

1. Estratégias para estimular a intenção comunicativa

A intenção comunicativa é quando a criança percebe que, ao agir (falar, gesticular ou apontar), ela pode obter uma resposta do ambiente ou das pessoas ao redor. Para isso, algumas práticas iniciais são essenciais:

  • Imitação Motora: Ensine gestos simples como acenar, bater palmas ou dar tchau. Comece mostrando o gesto e ajudando a criança a repetir. Gradualmente, reduza a ajuda até que ela consiga realizar a imitação sozinha.
  • Situações de Necessidade: Crie situações que provoquem a necessidade de comunicação, como dar um brinquedo incompleto (um quebra-cabeça sem peças) ou porções pequenas de alimentos favoritos. Isso incentiva a criança a pedir ajuda ou mais por meio de gestos, sons ou palavras.
  • Reforço Positivo: Elogie e recompense sempre que a criança fizer um esforço de comunicação, mesmo que não seja perfeito. Isso cria motivação para futuras interações.

2. Ferramentas utilizadas na linguagem funcional

Para ajudar crianças que enfrentam dificuldades na comunicação, especialmente as não-verbais, existem diversas ferramentas que tornam o processo mais acessível. Aqui estão algumas das mais utilizadas:

2.1. Prancha de Comunicação

As pranchas de comunicação fazem parte das estratégias de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) e são usadas para crianças com atraso na fala ou sem linguagem funcional.

  • O que é: Uma prancha contendo imagens, símbolos, palavras ou figuras. A criança aponta ou escolhe o item que representa o que ela quer comunicar.
  • Como funciona: Podem ser impressas ou digitais, sendo personalizadas com figuras que a criança compreenda facilmente, como objetos favoritos, alimentos ou emoções. Por exemplo, se a criança deseja um suco, ela pode apontar a imagem do suco na prancha.
  • Benefício: Facilita a comunicação básica, permitindo que a criança se expresse mesmo sem falar.

2.2. PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras)

O PECS é uma ferramenta amplamente usada no ensino de habilidades de comunicação em crianças autistas.

  • O que é: Um sistema que utiliza figuras organizadas em pastas, que a criança seleciona e entrega ao interlocutor para comunicar seus desejos.
  • Como funciona: Começa com a troca simples de figuras (por exemplo, a figura de um brinquedo para pedir o brinquedo) e evolui para a construção de frases completas.
  • Benefício: Ajuda a criança a desenvolver a comunicação funcional progressivamente, partindo da troca de figuras até a construção de sentenças.

2.3. Aplicativos de Comunicação Assistiva

Com o avanço da tecnologia, muitos aplicativos foram desenvolvidos para auxiliar crianças não-verbais a se comunicarem de forma eficiente.

  • O que é: Aplicativos baseados no conceito do PECS ou outras ferramentas de CAA, disponíveis para dispositivos móveis.
  • Como funciona: A criança pode selecionar imagens, símbolos ou palavras no aplicativo, e o dispositivo gera uma voz ou mensagem correspondente.
  • Exemplo: Um aplicativo popular foi desenvolvido por pais de crianças autistas e permite que as famílias carreguem fichários digitais em vez de pranchas físicas.
  • Benefício: É uma opção prática para o dia a dia, permitindo flexibilidade e personalização.

2.4. Histórias Sociais e Narrativas Visuais

As histórias sociais ajudam a criança a entender como agir e se comunicar em diferentes situações sociais.

  • O que é: Histórias curtas e personalizadas com imagens ou textos simples, descrevendo como se comportar ou interagir em determinadas situações.
  • Como funciona: A criança lê ou vê uma história antes de enfrentar uma situação específica (por exemplo, como pedir ajuda na escola).
  • Benefício: Ajuda a reduzir a ansiedade e melhora a compreensão das regras sociais, promovendo interações mais eficazes.

2.5. Símbolos Visuais e Rotinas Estruturadas

Os símbolos visuais e as rotinas estruturadas proporcionam previsibilidade para a criança e reduzem a ansiedade durante as interações comunicativas.

  • O que é: Ícones, imagens ou quadros de tarefas que indicam atividades do dia a dia.
  • Como funciona: A criança pode seguir um quadro de rotinas que contém imagens ou símbolos indicando o que fazer e em que ordem (por exemplo, vestir a roupa, escovar os dentes, tomar café).
  • Benefício: Organiza o ambiente e promove a compreensão do que se espera, facilitando o aprendizado de novas habilidades.

3. Dicas práticas para melhorar a linguagem funcional no dia a dia

Além das ferramentas, pequenas práticas no cotidiano ajudam a potencializar o desenvolvimento da linguagem funcional:

  • Integre a comunicação nas atividades diárias: Use momentos de refeição, brincadeiras e rotinas para ensinar novas palavras ou gestos.
  • Associe palavras a gestos: Enquanto ensina uma palavra, faça gestos associados a ela. Por exemplo, ao dizer “tchau”, acene com a mão.
  • Estimule a curiosidade: Deixe objetos interessantes fora do alcance da criança para incentivá-la a pedir ou apontar.
  • Respeite o ritmo da criança: Não apresse o processo. Cada criança tem seu próprio ritmo de desenvolvimento.
  • Envolva toda a família: A participação de familiares é importante para reforçar as habilidades em diferentes ambientes.

4. O impacto positivo da linguagem funcional

Ao aplicar essas estratégias e ferramentas, a criança com TEA pode desenvolver um repertório comunicativo que vai além da fala, promovendo maior autonomia, inclusão social e bem-estar emocional. A comunicação funcional permite que a criança se expresse, compreenda o ambiente e interaja de maneira efetiva, reduzindo frustrações e facilitando o aprendizado. Com o tempo, essas habilidades podem evoluir, proporcionando uma melhor qualidade de vida tanto para a criança quanto para a família.

Conclusão

A comunicação e a linguagem funcional vão além das palavras, abrangendo a capacidade de expressar pensamentos e emoções de forma clara, promovendo interações saudáveis. Estimular essa linguagem em diversos ambientes, como casa, escola e espaços sociais, oferece oportunidades contínuas de prática, fortalecendo gradualmente as habilidades de comunicação da criança.

Essas estratégias evoluem ao longo do tempo e devem ser ajustadas conforme as mudanças nas preferências e necessidades da criança. Um acompanhamento contínuo e atento permite adaptar as abordagens, garantindo que a criança desenvolva suas habilidades de comunicação de forma eficaz e alcance resultados positivos a longo prazo.

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