ARTIGOS

Dr. Richard Munhoz

Psicanalista Clínico e Infantil, mestre e doutor em Ciências Médicas

Os Impactos do TDAH na Vida Adulta: Uma Análise à Luz da Psicanálise e da Neurociência

No dia 13 de julho acontece o Dia Mundial do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Uma boa oportunidade para o tema ganhar destaque. O transtorno, comumente associado à infância, também afeta de maneira significativa a vida adulta. Seus efeitos ultrapassam a distração e inquietude, interferindo nas relações afetivas, no desempenho profissional, na organização cotidiana e na constituição do eu. A articulação entre psicanálise e neurociência permite uma compreensão mais complexa e humanizada desse fenômeno.

Sob a ótica neurocientífica, o TDAH decorre de disfunções nos circuitos dopaminérgicos do córtex pré-frontal, impactando atenção, inibição e memória de trabalho. Hipoatividade em áreas como o córtex dorsolateral e o estriado ventral compromete a autorregulação emocional, justificando traços de impulsividade e desorganização. Além disso, há um atraso no amadurecimento cortical de regiões essenciais ao autocontrole, evidenciado por estudos de neuroimagem.

Na psicanálise freudiana, embora o TDAH não fosse nomeado à época, suas manifestações apontam para um ego fragilizado, que falha em mediar os impulsos do id e as exigências do superego. Para Freud (1923), o ego deve inibir e adequar os desejos à realidade. No TDAH, esse mecanismo sofre, gerando sentimentos de culpa, fracasso e baixa autoestima, derivados da constante sensação de inadequação e improdutividade.

A psicologia analítica de Jung contribui com outra leitura: o TDAH pode expressar o conflito entre o self e a persona. O adulto, exigido a cumprir funções que demandam foco e controle, entra em dissonância quando sua energia psíquica se dispersa. Jung aponta que a individuação requer integração da sombra — e, nesse contexto, a desatenção e a impulsividade surgem como expressões de conteúdos psíquicos não integrados.

Na vida adulta, os impactos do TDAH são amplos: instabilidade profissional, dificuldades afetivas, uso de substâncias como forma de automedicação e um sofrimento psíquico latente. Muitos vivem em um estado de “quase”, oscilando entre o potencial não realizado e a frustração constante.

O tratamento ideal é multidisciplinar: envolve o uso de medicamentos (como o metilfenidato), estratégias cognitivas e psicoterapia. A abordagem psicanalítica, longe de negar o diagnóstico, contribui para resgatar o valor simbólico da história do sujeito, elaborando falhas narcísicas e ressignificando o sofrimento. Conforme Winnicott (1971), o setting analítico deve oferecer um ambiente suficientemente bom para a emergência do self verdadeiro, mesmo em meio ao caos da atenção fragmentada.

Em síntese, o TDAH adulto não se resume a um transtorno neurobiológico. É uma condição multifacetada que demanda escuta clínica, sensibilidade e articulação entre mente, corpo e cultura. Mais que curar, o papel do terapeuta pode ser o de ajudar o sujeito a reconciliar-se com sua singularidade — transformando a diferença em potência.

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