A suplementação nutricional e outras abordagens complementares têm ganhado espaço no manejo do autismo. Elas não substituem terapias tradicionais, mas podem contribuir positivamente para aspectos como sono, atenção, humor e comportamento. É fundamental que sejam sempre acompanhadas por profissionais qualificados.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição complexa que afeta o desenvolvimento neurológico, impactando áreas como comunicação, comportamento e interação social. Para além das intervenções tradicionais — como terapias comportamentais, fonoaudiologia e terapia ocupacional — cresce o interesse por tratamentos complementares e suplementações que possam auxiliar no manejo de alguns sintomas associados ao autismo.
Neste post, vamos explorar o que são essas abordagens, como funcionam, quais são os principais suplementos utilizados, os possíveis benefícios e, principalmente, os cuidados necessários antes de iniciar qualquer intervenção.
O que são abordagens complementares?
As abordagens complementares são estratégias de cuidado que podem ser usadas em conjunto com terapias tradicionais. No contexto do autismo, incluem:
•Suplementação de vitaminas, minerais e ácidos graxos;
•Terapias integrativas (como musicoterapia, acupuntura, aromaterapia);
•Dietas especiais;
•Tratamentos naturopáticos.
Importante: essas abordagens não substituem as terapias comprovadamente eficazes, mas podem ter efeitos coadjuvantes e contribuir para o bem-estar geral da pessoa autista.
Principais suplementos utilizados no TEA
Diversos estudos têm avaliado o uso de suplementos nutricionais em autistas, especialmente com foco em aliviar sintomas como irritabilidade, distúrbios do sono, dificuldades de concentração e hiperatividade. Os mais utilizados são:
•Ômega-3 (EPA/DHA): ácidos graxos essenciais que podem ajudar na função cognitiva, atenção e regulação do humor.
•Vitamina B6 com Magnésio: associados à melhora da comunicação e redução de comportamentos estereotipados em alguns casos.
•Vitamina D: baixos níveis têm sido observados em autistas; sua reposição pode contribuir para melhora imunológica e comportamental.
•Probióticos: promovem a saúde intestinal, o que pode impactar positivamente o comportamento por meio do eixo intestino-cérebro.
•Zinco e ferro: minerais fundamentais para o desenvolvimento neurológico, especialmente quando há deficiência comprovada.
Benefícios potenciais
Apesar de não haver consenso científico sobre os efeitos universais da suplementação em pessoas com TEA, estudos preliminares e relatos clínicos indicam benefícios em algumas situações:
•Melhora na qualidade do sono;
•Redução de sintomas gastrointestinais;
•Aumento da atenção e foco;
•Estabilização do humor;
•Redução de comportamentos repetitivos e irritabilidade.
Cada organismo é único, e os efeitos podem variar de pessoa para pessoa. Por isso, o acompanhamento profissional é imprescindível.
Cuidados e orientações importantes
Antes de iniciar qualquer tipo de suplementação ou abordagem alternativa, alguns cuidados são essenciais:
•Acompanhamento com profissionais qualificados: o uso de suplementos deve ser orientado por médicos, nutricionistas ou nutrólogos com experiência em TEA.
•Exames laboratoriais: servem para detectar deficiências reais de vitaminas e minerais, evitando suplementações desnecessárias ou perigosas.
•Evitar automedicação ou “receitas da internet”: algumas substâncias, se usadas sem controle, podem causar intoxicação, efeitos adversos ou interações medicamentosas.
•Avaliação individualizada: o que funciona para uma criança pode não funcionar para outra.
•Monitoramento constante: qualquer mudança de comportamento, sintoma novo ou alteração no sono e apetite deve ser comunicada ao profissional responsável.
A importância de uma abordagem integrativa
O uso de suplementos e terapias complementares deve sempre fazer parte de um plano terapêutico mais amplo e coordenado. Uma abordagem integrativa respeita as particularidades do autista, seus sintomas e necessidades específicas, sem prometer “cura” ou milagres.
Conclusão
A suplementação e as abordagens complementares podem ser aliadas importantes no cuidado ao autista, desde que utilizadas com responsabilidade e base científica. Elas não substituem tratamentos convencionais, mas podem potencializá-los e contribuir para uma melhora global na qualidade de vida.
Famílias, cuidadores e profissionais devem caminhar juntos na busca de soluções personalizadas e eficazes, com segurança, ética e carinho.
Referências Bibliográficas
- Rossignol DA. “Evidence-based treatments for children with autism.” Pediatrics. 2012.
- Adams JB et al. “Effect of a vitamin/mineral supplement on children with autism.” BMC Pediatrics. 2011.
- Frye RE, Slattery JC. “Clinical potential, safety, and tolerability of arbaclofen in autism spectrum disorder.” Neuropsychiatric Disease and Treatment, 2016.
- Ministério da Saúde – Brasil. Cadernos de Atenção Básica – Saúde da Pessoa com Deficiência.
- American Academy of Pediatrics. “Nutritional interventions for children with autism spectrum disorders.”