TDAH em pessoas autistas: o que é e por que é tão comum?

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma das comorbidades mais frequentes no autismo. Este post explica o que é o TDAH, suas principais características e por que ele afeta entre 30% e 80% das pessoas autistas, com base nas pesquisas mais atuais.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é frequentemente acompanhado por outras condições clínicas que impactam o desenvolvimento e o comportamento. Entre elas, uma das mais comuns é o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que pode estar presente em até 80% das pessoas autistas, de acordo com estudos recentes.

O TDAH é caracterizado por padrões persistentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade que interferem no funcionamento cotidiano. Quando ocorre em conjunto com o autismo, ele exige um olhar atento, tanto no diagnóstico quanto no manejo terapêutico. Compreender o TDAH em pessoas autistas é fundamental para oferecer intervenções mais eficazes e promover qualidade de vida.

O que é o TDAH?

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta a autorregulação da atenção, do comportamento e das emoções. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5, os sintomas se agrupam em dois domínios principais:

  • Desatenção: dificuldade de manter o foco, esquecer tarefas, não seguir instruções, distração frequente.

  • Hiperatividade/Impulsividade: inquietação motora, falar em excesso, dificuldade de esperar a vez, interromper os outros.

O TDAH pode se apresentar em três formas: predominantemente desatento, predominantemente hiperativo-impulsivo ou combinado.

TDAH em pessoas autistas: uma comorbidade frequente

Estudos indicam que entre 30% e 80% das pessoas com autismo também apresentam TDAH. Essa variação nos dados depende do critério de avaliação utilizado, da faixa etária e do nível de suporte necessário da pessoa autista.

Essa alta prevalência não é coincidência. O TDAH e o TEA compartilham diversas características neurológicas e genéticas, incluindo alterações em áreas do cérebro relacionadas à atenção, à inibição de respostas e ao controle emocional. Ainda assim, são condições distintas e com necessidades de intervenção específicas.

Nos últimos anos, a coexistência entre TDAH e autismo foi oficialmente reconhecida pelo DSM-5, algo que antes não era permitido nos critérios diagnósticos. Essa atualização foi um grande avanço para a prática clínica, pois permite compreender melhor os desafios enfrentados por essas pessoas.

Por que é importante identificar o TDAH em pessoas autistas?

Muitas vezes, os sintomas do TDAH são confundidos com características do próprio autismo. Isso pode levar a atrasos no diagnóstico e em intervenções necessárias, como o uso de medicação apropriada, abordagens psicopedagógicas ou terapias comportamentais.

A presença de TDAH em autistas está associada a:

  • Maior sobrecarga emocional e comportamental

  • Desafios na aprendizagem escolar

  • Dificuldade de manter amizades e interações sociais

  • Maior risco de ansiedade, frustração e baixa autoestima

  • Comprometimento no desenvolvimento da autonomia

Quando o TDAH é identificado corretamente, é possível adaptar as intervenções com mais precisão. A abordagem pode incluir estratégias específicas de autorregulação, organização da rotina, estímulo ao foco e uso de recursos visuais e estruturantes.

O papel da avaliação profissional

Para diferenciar o que é autismo, o que é TDAH e o que pode ser uma sobreposição entre os dois, é essencial uma avaliação feita por equipe multidisciplinar. Essa equipe pode incluir neurologistas, psiquiatras, psicólogos e terapeutas ocupacionais.

Ferramentas de rastreio, entrevistas clínicas, observação direta e questionários preenchidos por familiares ou professores são importantes na investigação diagnóstica.

Vale lembrar: o diagnóstico correto abre caminho para o suporte adequado. E quando falamos em crianças e adolescentes, o tempo é fator crítico — quanto antes as necessidades forem reconhecidas, mais eficaz será o apoio oferecido.

Conclusão

O TDAH é uma das comorbidades mais comuns em pessoas com autismo e, quando não identificado, pode dificultar o desenvolvimento, a autonomia e a qualidade de vida. Reconhecer os sinais, buscar avaliação adequada e adaptar as intervenções são passos essenciais para oferecer um cuidado integral. O TDAH em autistas não deve ser ignorado — pelo contrário, deve ser compreendido e acompanhado com empatia, informação e ciência.

Nos próximos posts, vamos explorar mais sobre as diferenças entre o TDAH isolado e quando ele aparece junto com o autismo, além de entender como ele afeta a atenção, a impulsividade e a regulação emocional.

Referências bibliográficas

  1. American Psychiatric Association. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5ª ed. Artmed, 2014.

  2. Antshel, K. M., & Russo, N. (2019). Autism Spectrum Disorders and ADHD: Overlapping Phenomenology, Diagnostic Issues, and Treatment Considerations. Current Psychiatry Reports, 21(5), 34. https://doi.org/10.1007/s11920-019-1012-3

  3. Leitner, Y. (2014). The co-occurrence of autism and attention deficit hyperactivity disorder in children – what do we know? Frontiers in Human Neuroscience, 8, 268. https://doi.org/10.3389/fnhum.2014.00268

  4. Ministério da Saúde. Linha de cuidado para a atenção às pessoas com transtorno do espectro do autismo e suas famílias na Rede de Atenção Psicossocial do SUS. Brasília: 2021.

  5. Cortese, S., et al. (2020). Practitioner Review: Current best practice in the management of adverse effects of psychotropic medications in children and adolescents with ADHD. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 61(4), 377–394.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest