Daniela Barreto

Relato de paciente com TEA

Elisa, 34 anos: uma mulher no espectro e a descoberta que transformou sua vida

Elisa tem 34 anos, é publicitária e foi diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos 32. Durante boa parte da vida, acreditou que era simplesmente “estranha”, “exigente demais” ou “reservada”. Na verdade, ela vinha navegando por um mundo que não parecia feito para ela, sem entender o porquê de se sentir tão deslocada.

Na infância, lia precocemente, usava um vocabulário muito elaborado e preferia brincar sozinha. Tinha dificuldades com contato visual, não gostava de barulho e se incomodava com tecidos e cheiros específicos. Mas como era uma menina estudiosa e educada, ninguém imaginou que pudesse estar no espectro. Afinal, o autismo ainda é, muitas vezes, subdiagnosticado em mulheres, que costumam desenvolver estratégias sofisticadas de camuflagem.

Aos 32 anos, após episódios de Burnout, crises de ansiedade e grande exaustão mental, Elisa buscou ajuda. Foi então que, após uma avaliação neuropsicológica, recebeu o diagnóstico de TEA nível 1 (sem deficiência intelectual). A notícia foi recebida com um misto de alívio, tristeza e recomeço.

Segundo ela relatou, entender que havia uma explicação neurobiológica para tantas dificuldades da vida, e que não se tratava de falhas pessoais, foi como “tirar um peso das costas”. O diagnóstico permitiu que revisitasse sua história com menos julgamento e mais compaixão.

No ambiente profissional, Elisa sempre foi competente, mas enfrentava dificuldades com situações imprevistas, reuniões sem pauta e ambientes ruidosos. Mudanças de rotina desestabilizavam sua produtividade. Precisava de organização e previsibilidade para funcionar bem, o que nem sempre era compreendido pelos colegas ou superiores.

Nas relações sociais, vivia o paradoxo entre desejar conexões e se sentir esgotada após interações. Já nas relações afetivas, relatava dificuldade com pistas sociais, comunicação emocional e situações de toque, o que gerava frustrações tanto nela quanto nos parceiros.

Essa invisibilidade social era acompanhada por um sentimento constante de inadequação. Mesmo realizando tarefas com excelência, sentia-se esgotada por manter o “personagem social” diariamente.

Um divisor de águas no tratamento de Elisa foi a introdução da neuromodulação não invasiva, a técnica de Neurofeedback e a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (tDCS/ETCC).

Inicialmente, ela teve dúvidas quanto à eficácia da técnica. No entanto, já nas primeiras sessões, foram observadas mudanças significativas: a atenção se tornou mais estável, facilitando o planejamento de tarefas; as crises sensoriais diminuíram, e a sobrecarga com sons e luzes fortes passou a ser mais tolerável; houve melhora na regulação emocional, o que a ajudou a lidar melhor com mudanças e frustrações; sua ansiedade social foi reduzida, permitindo que participasse de interações com mais segurança e menos desgaste.

A neuromodulação não “curou” o autismo, nem esse era o objetivo, mas melhorou consideravelmente sua qualidade de vida, ampliando sua autonomia e equilíbrio diário.

Hoje, Elisa segue em processo contínuo de autoconhecimento. Mantém acompanhamento terapêutico, desenvolveu uma rede de apoio segura e passou a se posicionar com mais firmeza quanto às suas necessidades.

Ela celebra pequenas vitórias, como conseguir participar de eventos sociais sem crises, organizar viagens sem paralisar diante dos imprevistos e manter uma rotina mais fluida no trabalho.

O diagnóstico e o tratamento não a definem, mas a ajudam a existir com mais autenticidade e menos culpa. O que antes era visto como “fragilidade”, hoje é reconhecido como uma forma diferente, e válida, de perceber o mundo.

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