ARTIGOS

Bianca Acampora

Doutora em Ciências da Educação, Mestre em Cognição e Linguagem, especialista em Pedagogia, Psicopedagogia, Arteterapia, Neurociências Cognitivas. Autora de mais de vinte livros, entre eles “Mentes Conectadas. O Impacto da Inteligência Artificial na Educação” (Wak Editora – 2025).

Inteligência artificial como aliada da acessibilidade educacional: caminhos para uma escola inclusiva

O artigo de Bianca Acampora mostra como a Inteligência Artificial pode ser uma poderosa aliada da acessibilidade na educação. Ferramentas como tradução automática, leitores de tela, legendas em tempo real, ditado e sumarização ajudam a tornar o ensino mais inclusivo, promovendo equidade e autonomia para todos os estudantes.

A construção de um ambiente educacional verdadeiramente inclusivo exige mais do que boas intenções: requer o uso de recursos que respeitem a diversidade e atendam às diferentes necessidades dos estudantes. A Inteligência Artificial (IA), quando utilizada de forma ética e pedagógica, é uma das tecnologias mais promissoras para promover acessibilidade e equidade no acesso ao conhecimento. Entre as ferramentas baseadas em IA, destacam-se cinco que já apresentam impacto significativo na prática docente e na vida dos estudantes: tradução automática, leitores de tela, legendagem automática, reconhecimento de fala e ditado, e sumarização automática.

 Tradução automática

A tradução automática, impulsionada por modelos de IA baseados em redes neurais, tem revolucionado o modo como conteúdos educacionais são adaptados para estudantes que não falam o idioma da instituição de ensino. Ferramentas como o Google Translate, o DeepL e o Microsoft Translator permitem a tradução em tempo real de textos, slides, e até falas em sala de aula. Esse recurso é fundamental para estudantes imigrantes, refugiados ou bilíngues, que muitas vezes enfrentam barreiras linguísticas que comprometem seu desempenho acadêmico (CUNHA; SANTANA; BORGES, 2020).

Exemplo prático: em uma escola pública de São Paulo, alunos venezuelanos recém-chegados participaram de aulas com apoio do Microsoft Translator, que traduzia, em tempo real, as falas do professor para o espanhol em seus celulares.

 Leitores de tela

Os leitores de tela são programas que transformam conteúdo textual em áudio. Ferramentas como NVDA (NonVisual Desktop Access) e JAWS (Job Access With Speech) são amplamente utilizadas por estudantes cegos ou com baixa visão. Integrados com algoritmos de IA, esses leitores conseguem interpretar melhor a estrutura de páginas web, reconhecer imagens com descrição automática e até identificar contextos, aumentando a fluidez da leitura (SILVA; OLIVEIRA, 2022).

Exemplo prático: um estudante com deficiência visual em uma universidade brasileira utiliza o NVDA aliado ao ChatGPT para resumir e compreender textos acadêmicos, o que amplia sua autonomia nos estudos.

 Legendagem automática

A legendagem automática tem sido essencial para estudantes surdos e com deficiência auditiva. Plataformas como o YouTube, o Google Meet e o Microsoft Teams utilizam IA para gerar legendas em tempo real durante vídeos e aulas síncronas. Embora ainda haja desafios na precisão das legendas em situações com ruído ou múltiplos falantes, os avanços são constantes (ALMEIDA; TEIXEIRA, 2021).

Exemplo prático: durante uma aula online de história, uma professora utiliza o Google Meet com legendas automáticas ativadas, possibilitando que uma aluna com deficiência auditiva acompanhe os conteúdos sem necessidade de intérprete.

Reconhecimento de fala e ditado

O reconhecimento de fala e os sistemas de ditado baseados em IA permitem que estudantes com dislexia, deficiência motora ou outras dificuldades de escrita possam se expressar verbalmente, convertendo sua fala em texto. Ferramentas como o Google Docs Voice Typing, o Dragon NaturallySpeaking e os recursos de acessibilidade do Windows e iOS são exemplos de aplicações eficazes nesse contexto (SANTOS; FERRAZ, 2022).

Exemplo prático: um aluno do ensino médio com paralisia cerebral utiliza o recurso de ditado do iPad para redigir redações e atividades escolares, garantindo sua participação plena nos processos de avaliação.

Sumarização automática

A sumarização automática, utilizando algoritmos de IA como os presentes no ChatGPT, SMMRY ou Resoomer, identifica as ideias principais de um texto extenso e gera uma versão resumida. Essa ferramenta beneficia estudantes com dificuldades de leitura, transtornos do espectro autista, TDAH ou limitações cognitivas, ao facilitar a compreensão e o foco em conteúdos essenciais (MEDEIROS; LIMA, 2023).

Exemplo prático: um estudante autista utiliza o ChatGPT para criar resumos de capítulos de um livro de literatura, o que o ajuda a compreender melhor a narrativa e participar ativamente das discussões em aula.

A aplicação responsável da Inteligência Artificial no contexto educacional deve estar alinhada aos princípios da inclusão, da ética e da equidade. Essas ferramentas não substituem o papel do professor, mas ampliam sua capacidade de responder às singularidades de cada estudante, construindo ambientes de aprendizagem mais acolhedores, justos e participativos. A formação continuada dos educadores, aliada a políticas públicas de inclusão digital e acessibilidade, é essencial para garantir que esses recursos estejam ao alcance de todas as escolas e redes de ensino.

Livros Publicados

  • Mentes conectadas; o Impacto da Inteligência Artificial na Educação (Kindle) https://amzn.to/4mLlrUb

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  • Intervenção Psicopedagógica com Práticas de Ludoterapia e Arteterapia (Capa comum) https://amzn.to/452Wtt0

  • 170 Técnicas Arteterapêuticas – Modalidades Expressivas Para Diversas áreas: Modalidades Expressivas Para Diversas áreas (Capa comum/Kindle) https://amzn.to/3SyNacX 

  • Psicopedagogia clínica: O despertar das potencialidades (Capa comum/Kindle) https://amzn.to/4dIMMlC

  • Fundamentos da Psicopedagogia. Introdução, História, Teorias e Panorama Geral (Capa comum/Kindle) https://amzn.to/43Mn8YE

 Referências bibliográficas:

ALMEIDA, L. M.; TEIXEIRA, R. F. A legendagem automática como recurso de acessibilidade em plataformas educacionais. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v. 27, n. 3, p. 529–546, 2021.

CUNHA, R. C.; SANTANA, M. F.; BORGES, R. S. Tradução automática e inclusão linguística de refugiados no contexto escolar brasileiro. Revista Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 23, n. 2, p. 45-60, 2020.

MEDEIROS, A. P.; LIMA, V. C. A simplificação e sumarização de textos com Inteligência Artificial como estratégia de inclusão para estudantes neurodivergentes. Educação & Tecnologia, v. 19, n. 3, p. 99-114, 2023.

SANTOS, L. A.; FERRAZ, F. G. Inteligência Artificial e equidade na educação: desafios e potencialidades. Revista Brasileira de Educação, v. 27, e270069, 2022.

SILVA, M. G.; OLIVEIRA, D. P. A leitura automatizada com IA: leitores de tela e autonomia no ensino superior. Revista Acesso Livre, v. 5, n. 1, p. 75-90, 2022.

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