O Uso de Canabinoides como Terapia para Pessoas Autistas: Resultados e Legislação no Brasil

Foto de Nataliya Vaitkevich. Site Pexels

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por desafios na interação social, comunicação e comportamentos repetitivos. Embora não seja uma doença e não tenha cura, muitas terapias ajudam a melhorar a qualidade de vida de pessoas autistas. Entre elas, o uso de Canabinoides tem ganhado destaque como uma abordagem complementar.

Neste artigo, exploramos os resultados documentados de estudos, detalhes legais e regulamentações no Brasil para o uso de canabinoides no manejo de sintomas do TEA.

Canabinoides e TEA: Bases científicas

O que são canabinoides?

Os canabinoides são compostos encontrados na planta Cannabis sativa. Entre eles:

CBD (canabidiol): Não psicoativo, investigado por suas propriedades terapêuticas.

THC (tetrahidrocanabinol): Psicoativo, responsável pelo efeito “entorpecente”. No Brasil, o THC é restrito e permitido apenas em concentrações mínimas.

O foco terapêutico no TEA recai sobre o CBD devido à sua capacidade de interagir com o sistema endocanabinoide, que regula funções corporais como sono, apetite, humor e respostas ao estresse.

Como o CBD atua no autismo?

Pesquisas sugerem que o CBD ajuda a:

  • Regular neurotransmissores no cérebro, como serotonina e dopamina.
  • Reduzir inflamações e hiperatividade do sistema nervoso.
  • Modificar a resposta ao estresse, promovendo maior equilíbrio emocional.

Resultados documentados: Estudos sobre CBD e autismo

Estudo em Israel

Um estudo pioneiro conduzido em Israel em 2018 analisou 188 crianças e adolescentes com TEA tratados com óleo de CBD (20:1 de CBD:THC). Os resultados foram promissores:

  • 80% dos participantes apresentaram melhora na irritabilidade.
  • 50% relataram progresso na comunicação social.
  • Redução significativa em comportamentos repetitivos e crises de autolesão.

Acesse o estudo completo aqui: (Real life Experience of Medical Cannabis Treatment in Autism: Analysis of Safety and Efficacy).

Revisão no Frontiers in Pharmacology

Uma revisão publicada em 2020 avaliou os efeitos do CBD no manejo do TEA. Os resultados apontaram:

  • Melhor controle de crises agressivas.
  • Redução de ansiedade e melhora do sono.
  • Necessidade de estudos mais amplos para determinar dosagens seguras e eficazes.

Estudos adicionais em andamento

Pesquisas mais recentes continuam explorando o papel do CBD em aliviar sintomas associados ao TEA. Muitos estudos estão em andamento nos EUA, Europa e Brasil, com foco na interação do CBD com o sistema endocanabinoide.

Legislação brasileira sobre canabinoides

O Brasil tem avançado na regulamentação do uso medicinal de canabinoides, mas o acesso ainda apresenta desafios.

Histórico e avanços legais

  • 2015: A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) autorizou pela primeira vez a importação de produtos à base de CBD, mediante prescrição médica.
  • 2020: A ANVISA regulamentou a produção e comercialização de produtos de cannabis em farmácias, como o Canabidiol Prati-Donaduzzi, fabricado nacionalmente.
  • 2023: A aprovação de medicamentos à base de cannabis continuou a expandir, mas com restrições ao THC.

Como obter tratamento no Brasil?

  • Receita médica especial: O tratamento só pode ser prescrito por médicos, geralmente em casos resistentes a terapias convencionais.
  • Autorização da ANVISA: Pacientes devem solicitar permissão para importação, enviando a prescrição e laudo médico.
  • Cobertura pelo SUS e planos de saúde:
    • Judicialização: Muitas famílias recorrem à Justiça para obter o tratamento gratuitamente, com base na Lei nº 12.764/2012 (Lei Berenice Piana).
    • Tribunais frequentemente concedem acesso ao tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou planos privados.

Considerações éticas e desafios

Apesar dos avanços, há questões a serem resolvidas:

  • Custos elevados: Muitos medicamentos com CBD ainda são caros, dificultando o acesso para famílias de baixa renda.
  • Falta de padronização: As concentrações e formas de uso variam, dificultando o acompanhamento médico.
  • Estigma social: O uso de cannabis, mesmo para fins medicinais, ainda enfrenta preconceito.

Orientações para famílias e cuidadores

Antes de iniciar um tratamento com CBD para uma pessoa autista, é essencial:

  1. Consultar um médico especialista.
  2. Verificar a procedência do produto, optando por marcas regulamentadas pela ANVISA.
  3. Acompanhar de perto possíveis efeitos colaterais, como sonolência, náusea ou alterações no apetite.

Conclusão

O canabidiol representa uma ferramenta complementar valiosa para o manejo de sintomas associados ao TEA, como ansiedade, distúrbios do sono e irritabilidade. No Brasil, a legislação tem progredido, permitindo maior acesso a esses tratamentos. Entretanto, mais estudos e ações são necessários para garantir segurança, eficácia e acessibilidade a todas as famílias que buscam essa alternativa.

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