Testes e Caminhos para o Diagnóstico de Autismo em Adultos

O diagnóstico de autismo em adultos ainda é um desafio no Brasil. Muitas pessoas passam décadas mascarando comportamentos e só compreendem suas vivências após a descoberta do TEA. Neste post, explicamos os testes mais utilizados, o papel dos profissionais especializados e os caminhos possíveis para chegar a um diagnóstico preciso e respeitoso.

A busca pelo diagnóstico de autismo na vida adulta tem crescido nos últimos anos, especialmente entre mulheres e pessoas com nível 1 de suporte. Muitas delas viveram décadas sentindo-se “diferentes”, enfrentando dificuldades sociais, sensoriais e emocionais sem entender a origem. Com a maior divulgação sobre o espectro autista e suas manifestações sutis, principalmente em adultos, cresce também a procura por testes de autismo em adultos e caminhos diagnósticos.

O processo de avaliação, porém, nem sempre é simples. Exige profissionais capacitados, ferramentas adequadas e, muitas vezes, uma escuta sensível às experiências subjetivas do indivíduo.

1. O que é necessário para um diagnóstico de autismo em adultos?

O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em adultos é clínico, ou seja, não existe um exame de sangue ou imagem capaz de confirmar ou excluir o autismo. Ele é baseado na observação de comportamentos, histórico de vida e critérios diagnósticos estabelecidos no DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da APA, 2022).

Para isso, o profissional — geralmente um médico psiquiatra ou neurologista com experiência em TEA, ou um psicólogo clínico especializado — deve avaliar aspectos como:

  • Comunicação verbal e não verbal;

  • Interação social;

  • Repertório de interesses e comportamentos repetitivos;

  • Sensibilidade sensorial;

  • Histórico desde a infância (quando possível).

2. Testes e instrumentos de triagem mais utilizados

Embora o diagnóstico seja clínico, existem instrumentos padronizados de rastreio e apoio diagnóstico, usados por profissionais treinados. Entre os principais estão:

RAADS-R (Ritvo Autism Asperger Diagnostic Scale – Revised)

  • Desenvolvido para triagem de autismo em adultos.

  • Questionário com 80 perguntas sobre aspectos sensoriais, sociais e de linguagem.

  • Deve ser interpretado por profissional capacitado.

AQ (Autism Spectrum Quotient)

  • Criado por Simon Baron-Cohen, mede traços autistas em adultos.

  • É um teste de autoavaliação com 50 questões.

  • Pontuações acima de 32 sugerem forte traço autista, mas não substitui avaliação clínica.

ADOS-2 (Autism Diagnostic Observation Schedule – 2ª edição)

  • Padrão ouro para diagnóstico de TEA.

  • Requer treinamento especializado.

  • Usa interações observadas e tarefas estruturadas para avaliar comportamentos típicos do autismo.

ADI-R (Autism Diagnostic Interview – Revised)

  • Entrevista estruturada com familiares (quando possível).

  • Muito útil para recuperar o histórico desde a infância.

Esses instrumentos são frequentemente usados em conjunto, e nunca isoladamente, pois o contexto individual, histórico de vida e fatores como camuflagem social e traumas precisam ser considerados.

3. O fenômeno da camuflagem social

A camuflagem autista é uma das razões pelas quais muitos adultos — especialmente mulheres — não recebem diagnóstico na infância. Trata-se da tentativa consciente ou inconsciente de imitar comportamentos neurotípicos para se encaixar socialmente.

Isso pode resultar em:

  • Diagnósticos errados (como TDAH, ansiedade, depressão, transtorno de personalidade);

  • Esgotamento mental constante;

  • Dificuldade em manter relacionamentos ou empregos estáveis.

Entender a camuflagem é essencial para que o profissional não descarte o autismo apenas por o paciente “funcionar bem” socialmente.

4. Como encontrar um profissional especializado?

O ideal é buscar profissionais com experiência comprovada em TEA na vida adulta. Dicas práticas incluem:

  • Verificar se o profissional tem formação em avaliação diagnóstica de autismo (como capacitação em ADOS-2);

  • Procurar indicações em grupos de apoio, redes sociais e associações de autistas;

  • Agendar consulta inicial explicando que deseja investigar autismo e não apenas tratar sintomas isolados.

Em muitos casos, a avaliação pode envolver uma equipe multidisciplinar: psicólogo clínico, psiquiatra, terapeuta ocupacional e neurologista.

5. Diagnóstico oficial ou autoconhecimento?

Algumas pessoas autistas adultas optam por não buscar um diagnóstico formal, especialmente diante da dificuldade de acesso ao sistema público ou alto custo do particular. Isso não invalida sua vivência.

Para muitas, o autodiagnóstico com base em estudo profundo, apoio da comunidade e identificação com relatos de outros autistas já oferece alívio e compreensão. Ainda assim, o diagnóstico oficial pode ser importante para:

  • Garantir direitos legais e benefícios (como laudo para concurso, acesso à saúde, isenção de IR, etc.);

  • Obter apoio terapêutico adequado;

  • Reduzir autocrítica e promover o autocuidado.

6. O que muda após o diagnóstico?

Receber o diagnóstico de TEA na vida adulta pode trazer um misto de alívio, luto e redescoberta. Muitos relatam:

  • Entendimento de experiências passadas antes vistas como “falhas”;

  • Alívio ao saber que não estão sozinhos;

  • Vontade de reescrever sua trajetória sob um novo olhar;

  • Busca por suporte e conexão com a comunidade autista.

O mais importante é lembrar que o diagnóstico não muda quem a pessoa é — apenas dá nome ao que sempre existiu.

Conclusão

O caminho para o diagnóstico de autismo em adultos é pessoal, profundo e, muitas vezes, transformador. Apesar dos desafios, ter acesso a testes adequados, profissionais empáticos e espaços de escuta pode fazer toda a diferença na vida de quem sempre se sentiu “fora do padrão”. Se você se reconheceu em parte deste texto, saiba: investigar seu lugar no espectro é um ato de coragem e cuidado consigo mesmo.

Referências bibliográficas

  • American Psychiatric Association. DSM-5-TR: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 2022.

  • Ritvo, R.A., et al. “The Ritvo Autism Asperger Diagnostic Scale-Revised (RAADS-R)”. Journal of Autism and Developmental Disorders, 2011.

  • Baron-Cohen, S., et al. “The Autism Spectrum Quotient (AQ): Evidence from Asperger syndrome/high-functioning autism, males and females, scientists and mathematicians”. Journal of Autism and Developmental Disorders, 2001.

  • Lord, C. et al. “Autism Diagnostic Observation Schedule – 2nd Edition (ADOS-2)”. 2012.

  • Hull, L., et al. “Putting on My Best Normal: Social Camouflaging in Adults with Autism Spectrum Conditions”. Journal of Autism and Developmental Disorders, 2017.

  • Rede Athenas – Saúde Mental e Autismo. https://redeathenas.com.br

  • Revista Autismo. https://www.revistaautismo.com.br

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